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Setembro Amarelo: Como cuidar da saúde mental dos alunos?

Durante o mês da prevenção do suicídio e a retomada gradual das atividades presenciais é fundamental garantir o olhar para o assunto

POR:
Aline Naomi
Crédito: Getty Images

Durante o Setembro Amarelo, campanhas de conscientização e prevenção do suicídio e discussões sobre saúde mental ganham destaque. Ao verificar os desafios vividos desde março de 2020 percebemos que o assunto é ainda mais necessário. A pandemia de covid-19 trouxe prejuízos não só à saúde física, como também comprometeu o emocional das pessoas. Em um estudo encomendado pelo Fórum Econômico Mundial, entre 30 países, o Brasil é o 5º colocado com mais entrevistados que relataram sentir declínio no bem-estar mental e emocional.

Sabemos que o cenário também afeta crianças e adolescentes. Com a retomada das atividades presenciais, ajustes à nova rotina e pressão para recuperar as aprendizagens, mais do que nunca, é necessário falar sobre saúde mental na escola.

Para começar, é importante entender que sentimentos e emoções são naturais, inclusive os estados do medo, como a ansiedade. É o que explica Celso Lopes de Souza, psiquiatra e co-fundador do Programa Semente — voltado para a aprendizagem socioemocional nas escolas. “O que está acontecendo é que estamos sujeitos a um estresse e a incertezas maiores, e percebemos as inseguranças por meio dos estados do medo, como preocupação e ansiedade”, afirma.

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Por mais que a ansiedade possa estar mais aflorada neste momento, isso não quer dizer que todas as pessoas que se sintam mais ansiosas estejam com um quadro de transtorno ansioso. Muitas vezes, o sentimento está relacionado a uma estratégia de proteção da nossa mente e, de certa forma, coerente. Porém, é preciso ficar atento para quando essa ansiedade é paralisante e se estende por longos períodos. 

Qual o papel da escola no cuidado com a saúde mental?
Os educadores entram em um lugar de acolhimento. Entenda

Ainda que os educadores não sejam especialistas em saúde mental, eles precisam se preparar para acolher os alunos. “Como os professores e gestores têm um contato privilegiado e próximo com os estudantes, eles já lidam com os aspectos emocionais desse público”, comenta Ana Carolina D'Agostini, psicóloga, pedagoga e coordenadora de formações do Instituto Ame sua Mente. “É papel desses educadores ficarem atentos a sinais de alerta que possam precisar de um encaminhamento ou de mais atenção.”

Para a especialista, a escola é um lugar de socialização, vínculo e afeto. Por isso, é importante a equipe escolar pensar na retomada das aulas presenciais com foco no bem estar do aluno e com atividades em que eles possam se expressar e dar nome ao que sentem, e reconstruir os vínculos com os colegas e com os professores. “Isso é mais importante do que ficar preocupado em voltar para escola e já correr atrás de todo o prejuízo acadêmico”, enfatiza a especialista.

O que é a ansiedade? E quando a dificuldade é em conviver?

Como falamos anteriormente, a ansiedade é um estado de medo ligado à preocupação. Esse sentimento é uma reação natural do corpo diante de um perigo. Quando esse estado é transitório, um momento de escuta com o aluno pode ser o suficiente. No entanto, quando ele se prolonga por semanas e atrapalha o dia a dia do indivíduo, é preciso estar atento, pois a ansiedade pode se transformar em algo mais sério e demandar de um apoio profissional.

Uma situação que pode ser um gatilho para a ansiedade é voltar ao convívio social após mais de um ano de isolamento. “Não tenha dúvidas de que as interações sociais foram comprometidas durante a pandemia, o que significa que as oportunidades de aprendizado [de desenvolver habilidades de convívio] tiveram menos chances de acontecer, como ter iniciativa social, se apresentar para alguém que você não conhece e a percepção da empatia”, explica Celso.

Por isso, pode ser comum que professores percebam que seus alunos estão menos maduros do que estariam para sua faixa etária, sobretudo nos anos de transição, como no 6º ano ou no 1ª ano do Ensino Médio. Esse “atraso” é esperado e pode ser recuperado conforme as interações sociais voltam a se tornar parte da rotina.

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Com turmas nos Anos Finais do Fundamental, um caminho para fazer esse apoio é fazer uso do potencial da leitura para acolher e elaborar os sentimentos.


No entanto, é preciso reforçar que isso é diferente de um cenário em que um estudante está isolado, com sofrimento para interagir socialmente e um comportamento nitidamente diferente dos demais colegas. Neste caso, isso é um sinal de alerta para orientar as famílias a buscar um profissional, pois pode tratar-se de um quadro de ansiedade social. 

Quais são os sinais de alerta
Entenda quais são os pontos de atenção para saber se é preciso procurar ajuda

Não cabe aos educadores diagnosticar transtornos psicológicos, mas eles podem ficar atentos aos sinais e, quando necessário, encaminhar para a ajuda de profissionais da área. “Quando uma criança ou adolescente desenvolve um transtorno mental, nunca é do nada. Sempre tem sinais de alerta que vão aparecer para os adultos”, explica Ana Carolina.

Uma das principais mudanças que podem chamar a atenção dos professores é o impacto na produtividade escolar, que pode ser observado nas notas, na atenção na aula e na participação, por exemplo. Outro ponto é observar se houve alguma mudança significativa no comportamento ou se ele está se isolando e deixando de fazer atividades que antes considerava prazerosas.

Se o professor notar essas ou outras mudanças relevantes, principalmente por longos períodos, é importante fazer um acolhimento e, eventualmente, encaminhar o estudante para a ajuda de um profissional. “É identificar, acolher e tentar mostrar o quanto parte dos sentimentos que estão acontecendo agora são normais, importantes e humanos”, comenta Celso.


Como cuidar de sua saúde mental dos alunos

Muitas vezes, a escola entende que é importante desenvolver algum tipo de trabalho sistematizado em relação à saúde mental, e não apenas uma palestra durante o Setembro Amarelo, mas não sabe por onde começar. Katia Negri, psicóloga e pedagoga na Associação pela Saúde Emocional de Crianças (ASEC), reforça a importância de se criar um ambiente seguro onde o aluno se sinta acolhido e suas questões emocionais sejam vistas.

Para isso, é preciso dar um passo para trás e olhar para a equipe escolar. “A escola pode, em qualquer circunstância, mostrar-se aberta para falar sobre sentimentos e emoções. Isso começa pela equipe [gestora e docente] antes do aluno”, sugere.

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Para além do olhar para a saúde mental dos alunos, é fundamental garantir essa preocupação com os professores. Confira conteúdos para saber como fazer esse trabalho durante a pandemia


Com os estudantes, é possível propor espaços de fala, rodas de conversa ou atividades escritas. O importante é garantir momentos para a expressão das emoções e sentimentos. Ana Carolina comenta que a preocupação com a saúde mental pode começar com coisas simples, como perguntar como eles estão. “Quando a pessoa estiver passando por alguma coisa mais séria, ela vai sentir que existem pessoas ali que se preocupam com ela e a quem ela pode recorrer”, comenta.

Katia também reforça a sugestão. “Se um professor sente que não consegue abrir esse espaço de fala com tanta frequência por conta do tempo, ele pode sinalizar [por exemplo, no final da aula] para esses estudantes que ele sempre está disponível para ouvir”. E se o aluno quiser conversar, é importante exercer uma escuta ativa, sem justificar ou dar uma lição de moral, mas validando aquele sentimento nesse primeiro momento, dizendo “eu te entendo” ou “é natural se sentir assim”.

Vale ressaltar que cada instituição tem sua realidade e cada comunidade escolar tem suas especificidades. “É importante que a escola entenda quem é essa comunidade, quem são esses pais e famílias, quais são as necessidades que eles têm hoje, como acolhê-los e como apoiá-los”, aconselha Katia. “Precisamos exercitar o olhar de que está difícil para todo mundo e que cada um está fazendo o melhor com as possibilidades que têm naquele momento”, finaliza. 

Aprofunde-se no tema!
Os especialistas deram dicas de sites, cursos e livros para você entender mais sobre saúde mental e trabalhar o tema com seus alunos. Confira:

Programa Semente: no blog deles, você encontra artigos sobre temas importantes da saúde mental.

Ame sua Mente nas Escolas: confira guias práticos e fichas informativas para apoiar seu trabalho.

ASEC Brasil: acesse gratuitamente trilhas de formação sobre saúde mental.

Hora de falar (ASEC): compilado de atividades para crianças e adolescentes com o objetivo de desenvolver a percepção dos sentimentos.

Especial competências socioemocionais: para cuidar da saúde mental, uma estratégia de prevenção é favorecer o desenvolvimento dessas competências para dar recursos para os estudantes identificarem e lidarem com suas emoções. Confira reportagens gratuitas especiais.

E-book gratuito: Competências socioemocionais e saúde mental na escola: material produzido por Nova Escola apresenta experiências de escolas que já desenvolvem as socioemocionais para inspirar mais educadores a ajudar na construção de uma escola saudável e com clima positivo

Acervo NOVA ESCOLA: confira o que já falamos sobre o assunto em reportagens e colunas do nosso acervo. Inclusive, confira as colunas de Ana Carolina no site NOVA ESCOLA sobre saúde mental dos professores.

Emocionário: diga o que você sente, Cristina Núñez Pereira e Rafael R. Valcárcel (Editora Sextante): o livro é um dicionário de emoções que ajuda a entender melhor os sentimentos e nomeá-los. Confira também a resenha do livro ilustrado Hoje me sinto, de Madalena Moniz (V&R Editoras)

Vazio, de Anna Llenas (Editora Salamandra): o livro da autora argentina conta a história de uma menina que consegue superar essa tristeza ao dar um novo sentido às suas perdas.

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