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Setembro Amarelo: prevenir o suicídio é educar

Para conscientizar e prevenir, é preciso quebrar o tabu e falar sobre o assunto. Vamos conversar sobre suicídio?

POR:
Ana Carolina C D'Agostini
segundo o Ministério da Saúde, em 20 anos o número de suicídios praticamente dobrou no Brasil e é hoje a 4ª maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos     Crédito: Getty Images

Desde 2015, setembro é o mês mundial de prevenção ao suicídio. No Brasil, a campanha liderada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) em parceria com o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria, é chamada de Setembro Amarelo. Neste mês, um dos principais lemas da campanha é "Combater o estigma é salvar vidas". Para isso, diversas intervenções ocorrem no país para aumentar a conscientização e a prevenção sobre o tema: caminhadas temáticas, palestras com especialistas, distribuição de balões amarelos, edifícios públicos iluminados, entrega de folhetos e atendimento à população em locais públicos estão entre as ações planejadas.

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Falar sobre suicídio de maneira produtiva é fundamental para que aqueles que possuem ideação suicida – ou seja, quem está pensando em se matar – e para que as pessoas que estão próximas e não sabem como ajudar possam se informar sobre o assunto e não se sintam sozinhas. O tema já é delicado e ainda é alvo de diversos tabus. Quando não é debatido, acaba por ficar imerso em preconceitos, na falta de informação e traz dificuldades na identificação dos sinais de alerta, o que diminui a busca por ajuda e a aumenta o estigma para aqueles que sofrem. Por isso, NOVA ESCOLA vai dedicar os textos da nossa página de Bem-Estar do Professor desse mês de setembro ao suicídio. Vamos falar sobre isso?

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Dados sobre o suicídio

Segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), todos os anos, cerca de 1 milhão de pessoas ao redor do mundo cometem suicídio e cerca de 60% das pessoas que o fizeram nunca se consultaram com um profissional de saúde mental ao longo da vida. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, em 20 anos o número de suicídios praticamente dobrou no país e é hoje a 4ª maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Os indídgenas estão entre a maior população de risco. Os dados apontam ainda que as tentativas de suicídio são maiores entre as mulheres, porém os homens representam 79% das mortes e o principal método utilizado é o enforcamento, seguido por intoxicação.

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Escola pode ajudar a formar habilidades socioemocionais

A escola é o principal espaço de socialização de crianças e adolescentes. Assim, é também um local que deve ser de formação também das chamadas habilidades socioemocionais. Essas habilidades partem de aptidões desenvolvidas a partir da inteligência emocional, que aponta para comportamentos que cada um de nós tem em relação a si mesmo e com as outras pessoas.

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O desenvolvimento das habilidades socioemocionais é importante para que crianças e adolescentes compreendam o que estão sentindo, saibam reconhecer os sentimentos dos outros, gerenciar as próprias emoções e resolver problemas. Na escola convivem diariamente professores, gestores e demais funcionários que também podem estar sofrendo em silêncio e precisando de ajuda. Nesse sentido, a escola deve buscar formas de fortalecer o senso de comunidade e de pertencimento, para que assim uns estejam atentos aos outros e encontrem espaços de confiança para falar sobre seus sentimentos. Uma pessoa que está com depressão, por exemplo, pode estar em um nível de sofrimento tão grande que não consegue visualizar todos os caminhos possíveis para ficar bem. 

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O Ministério da Saúde alerta para os principais sinais aos quais devemos ficar atentos a alguém em risco de suicídio. São eles: a diminuição do autocuidado, isolamento social, mudança brusca de humor, abuso no uso de drogas, automutilação (nos jovens) e falta de perspectiva no futuro.    

Mesmo que a escola invista em ações pontuais sobre a prevenção de suicídio ao longo de setembro, é importante que o trabalho seja contínuo. Afinal, as questões existenciais que podem levar alguém a cometer suicídio não costumam surgir repentinamente. Um bom exemplo de ação contínua é promover a cada bimestre rodas de conversa e debates sobre temas diversos relacionados às emoções. Essas atividades dão abertura ao diálogo e possibilitam maiores chances de observação sobre como os alunos estão. Além disso, alunos e funcionários devem saber a quem recorrer quando precisarem tratar de um tema difícil e a escola não deve ter medo de abordar questões como suicídio, depressão, ansiedade – claro que com toda a sensibilidade e cuidado que a temática requer. Caso não haja alguém capacitado na escola para direcionar esses projetos e conduzir essas conversas, é importante buscar parcerias com psicólogos e psiquiatras e outras fontes confiáveis para planejar cada ação. 

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Suicídio não é “covardia” e nem “ato de coragem”

Se estamos com dor de estômago por mais de uma semana, procuramos um médico especialista no sistema gastro-intestinal, certo? Se temos uma dor de cabeça que não passa, vamos a um médico neurologista investigar o que está acontecendo. Se alguém em nossa família tem diabetes, ficamos de olho no consumo de açúcar. Porém, normalmente não fazemos o mesmo com o sentimento de tristeza. Os nossos sentimentos, aqueles mais difíceis, devem ser tratados com a mesma importância que damos a outros sintomas físicos. Edwin Shneidman, psicólogo clínico suicidologista, criou inclusive o termo Psychache, que em inglês significa uma dor psicológica profunda. Segundo ele, todo ato suicida reflete alguma necessidade psicológica específica não atendida.

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O suicídio é multidimensional e não tem uma causa única. Como afirma a psicóloga Karen Scavacini, não devemos falar "o suicídio", e sim "os suicídios", já que cada história é única e deve ser tratada em suas especificidades. Segundo o Manual Clínico de Avaliação e Tratamento de Pacientes Suicidas, o ato suicida é a comunicação de um processo conhecido como "os três Is", ou seja, quando a vida se tornou intolerável, interminável e inescapável para o indivíduo. O CVV aponta que depressão, transtorno bipolar, dependência química e tantas outras questões relacionadas à saúde mental, se não tratadas com atenção, podem levar ao suicídio. 

Outro ponto de atenção importante é o cuidado com a nossa linguagem. Quando julgamos uma pessoa que cometeu suicídio, ou dizemos que foi "fraqueza", "covardia" ou "egoísmo", estamos inibindo a expressão de outros com ideação suicida. Quando chamamos o suicídio de um "ato de coragem", estamos romantizando um sofrimento extremo que não encontrou outra forma de ação. Quando repetimos frases irresponsáveis como "quem quer se matar, se mata", "está sofrendo? vai e se mata", podemos incitar o ato e menosprezar a dor pela qual alguém está passando.

Segundo material elaborado pelo Ministério da Saúde, há 4 passos fundamentais para ajudar uma pessoa sob risco de suicídio:

1. Converse
Busque um momento apropriado e um lugar calmo para conversar. Procure ouvir a pessoa sem julgamentos. Indique serviços de apoio emocional, como a linha sigilosa e gratuita do Centro de Valorização da Vida (188).

2. Acompanhe
Mantenha contato para saber como a pessoa está se sentindo e o que está fazendo para se cuidar. 

3. Busque ajuda profissional
Incentive a pessoa a buscar ajuda profissional especializada e se ofereça para acompanhá-la ao atendimento. Há serviços públicos disponíveis em todo o Brasil, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), Unidades Básicas de Saúde e serviços de emergência (SAMU 192, UPA 24H, Pronto-socorros e hospitais).

4. Proteja
Se perceber que há perigo imediato de ocorrência de suicídio, não deixe a pessoa sozinha e certifique-se que a pessoa não tenha acesso a formas de provocar a própria morte, como armas, pesticidas e medicamentos. 

Compreender o fenômeno do suicídio e como ele nos afeta pode salvar vidas e é o primeiro passo a ser dado. Cabe priorizar o diálogo na escola, na família e nas nossas relações pessoais para mostrar que a solução não está em desconsiderar os momentos difíceis. Falar sobre suicídio não aumenta o risco de ocorrência, pois muitas vezes essa é a oportunidade que a pessoa tem para falar sobre o que está sentindo e de compreender que não está sozinha. É o preconceito, a falta de informação e a pouca prioridade dada às nossas emoções que impossibilita que tantas pessoas busquem apoio. Prevenção começa com educação. Sobre todo e qualquer assunto. 

Ana Carolina C D'Agostini é psicóloga e pedagoga com formação pela PUC-SP, especialização em psicologia pela Universidade Federal de São Paulo e mestre em Psicologia da Educação pela Columbia University. Trabalha com projetos em competências socioemocionais e é consultora do projeto de Saúde Emocional da Nova Escola.

REFERÊNCIAS

Campanha do Setembro Amarelo: https://www.setembroamarelo.com/

Chiles, J. A., & Strosahl, K. D. (2005). Clinical manual for assessment and treatment of suicidal patients. Arlington, VA, US: American Psychiatric Publishing, Inc.

Ministério da Saúde - Prevenção do suicídio: sinais para saber e agir 

Scavacini, Karen (2018). Histórias de sobreviventes do suicídio. São Paulo: Instituto Vita Alere, Benjamin Editorial. 

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