Educação Infantil: como utilizar a observação para pensar experiências de aprendizagem?
O ato de observar consiste em uma prática importante para os professores dessa etapa e requer empatia, planejamento e a utilização de instrumentos adequados
POR: Paula SestariOlá, professoras e professores! Chegamos ao final de mais um semestre, e com ele vem o fechamento do primeiro ciclo de práticas pedagógicas. Falamos aqui do período de acolhimento; do diagnóstico e da organização de práticas que consideram os interesses e necessidades de cada agrupamento; dos registros do que foi vivido nas relações criança-criança, criança-adulto e criança-ambiente de aprendizagem; e, por fim, do processo de análise documental e comunicação com as famílias e a comunidade escolar.
Ufa! Quanta coisa, não é mesmo? Sabemos, claro, que essas etapas não se configuram em ações lineares e sucessivas, afinal elas se desenrolam no cotidiano de idas e vindas de pessoas que convivem, se expressam e se comunicam a todo instante. Só que, em meio a essas ações de acolher, diagnosticar, organizar, registrar e comunicar, está a prática de observar.
Por isso, nessa conversa de hoje, quero convidá-los a refletir um pouco sobre o papel da observação na atuação do professor da Educação Infantil – e analisar como é possível se valer dela para garantir a continuidade das experiências de aprendizagem de bebês, crianças pequenas e bem pequenas.
O que é observar na Educação Infantil?
A prática de observação é uma das iniciativas que engloba a atuação do professor em sala. Ela é realizada por meio de instrumentos que garantem que alguns aspectos, que muitas vezes estão no campo da subjetividade, ganhem materialidade e se transformem em subsídios para outras ações inerentes à ação docente.
Vale reforçar que não se trata de algo meramente instintivo e aleatório. Na verdade, a observação requer aperfeiçoamento constante e pressupõe conhecimento do desenvolvimento infantil, além de uma sensibilização por parte do educador, olhando para suas crianças com empatia e generosidade e levando em conta os conhecimentos que elas próprias já trazem em suas bagagens.
Por que observar?
O ato de observar permite que o professor compreenda quem são os pequenos que compõem esse grupo e contribui para que aperfeiçoe o seu próprio olhar e as suas atitudes, ao revisitar as ações das crianças junto com o espaço, o tempo e os materiais que foram oportunizados. O educador observa porque esse é um mecanismo para levantar hipóteses sobre a qualidade e o alcance das oportunidades de aprendizagem oferecidas.
Como observar?
A observação deve ser bem planejada e intencionalmente realizada. Para isso, o planejamento pode contemplar alguns pontos de observação de acordo com os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento propostos para a vivência ou para um determinado momento da rotina, e é possível organizar estratégias para mesclar a observação de pequenos grupos, de crianças específicas ou observar o grupo como um todo.
Esses pontos precisam ser compartilhados com aqueles que fazem o papel de auxiliares de turma, para que consigam apoiar nessa tarefa de garimpar elementos da interação e da expressividade das crianças – bem como intervir e mediar de modo que tais pontos sejam contemplados. Como instrumento de observação, o professor pode se utilizar de anotações, fotos, vídeos e áudios que permitam uma análise posterior, bem como se configuram em materialidade para a organização da documentação pedagógica.
Quando observar?
A prática de observação enquanto ação planejada, a partir de estratégias previamente estruturadas e tendo como princípio alguns pontos elencados, acontece na formalização do planejamento, sendo assim, não precisa ser vista como uma função a mais. Ela ocorre também como ação contínua, no cotidiano de um professor que está, de fato, envolvido com as crianças, que se interessa pelos seus assuntos e questões. Assim, a observação enquanto ato intencional e marcado no planejamento não se desvincula da escuta atenta, do olhar cuidadoso e do gesto afetivo do dia a dia.
Para que observar?
Ao transcorrer de maneira sistematizada e intencional, essa ação colabora para que, em um grupo maior, o professor organize momentos de um olhar voltado para cenas específicas do cotidiano, para que todas as crianças sejam contempladas no reconhecimento da forma como pensam, como se relacionam e como vivenciam o espaço. Em resumo, observar ajuda o educador a qualificar suas intervenções e a articular a forma como faz as mediações das interações, pensando em boas perguntas para ampliar o pensamento e aprofundar as discussões.
Por fim, ressalto que a observação não busca evidenciar somente o que as crianças fazem, mas tem o papel de olhar também para o ambiente, os materiais, o tempo e o modo como se estabelecem as relações no espaço escolar. Observar, por si só, não garante melhorias na Educação Infantil, mas colabora para a coleta de indícios que vão possibilitar encaminhamentos posteriores, em conjunto com pares e com a gestão. É o momento de analisar as práticas oportunizadas, criar novos arranjos no ambiente e repensar quais intervenções poderiam ter sido feitas em determinado momento, estruturando abordagens intencionalmente planejadas para que as crianças possam ir cada vez mais além.
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.
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