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Conselho de classe: como planejar um bom encontro no final do ano letivo

Esse momento exige reflexões e uma boa organização e condução para potencializar o ensino e a aprendizagem nas escolas

POR:
José Marcos Couto Júnior
Foto: Getty Images

“Há décadas em que nada acontece, e há semanas em que décadas acontecem.” Essa afirmação, conta-se, saiu da boca do líder bolchevique Vladimir Lenin (1870-1924), em outubro de 1917, quando se instalava a Revolução Russa (1917-1923). Porém, amiga leitora e amigo leitor, essa frase poderia ser uma boa síntese do que nós, gestores escolares, passamos neste último ano, não é mesmo? 

Tivemos em 2022 o retorno pleno das atividades presenciais pelo país; Carnaval em abril; a pandemia de Covid-19 ainda ocorrendo com ameaças de novas variantes; eleições presidenciais e antes do Natal temos uma Copa do Mundo pela frente. E, em meio a tudo isso, um período letivo inteiro

Eu não sei aí, na sua escola, mas na Ivone Nunes Ferreira, da qual sou gestor, perdi as contas das vezes em que as nossas semanas mais se pareciam com décadas. Mas ainda não acabou: junto com o mês derradeiro que se aproxima, chegamos também ao conselho de classe mais importante do ano. 

O que o conselho final traz de novo? 

Sei que alguns podem contra-argumentar sobre a relevância dessa última reunião, afirmando que “as notas e os conceitos ao longo do ano já encaminharam aprovações ou reprovações”; ou que “as avaliações paralelas retiram o peso dos conselhos de classe de dezembro”; ou ainda comentar que “o cansaço nesta época faz com que esse momento não renda tanto assim”. Concordo em parte com essas afirmações, mas não podemos negar que essa é a hora em que realmente damos “ultimatos” acerca da aptidão dos nossos alunos para acompanhar ou não as seriações seguintes. 

Esse encontro derradeiro contempla ainda o debate (junto à equipe docente) das bases pedagógicas do próximo ano. Redefinimos também onde alocaremos os nossos professores, além de uma série de decisões que podem parecer pequenas, mas que possivelmente irão reverberar por todo o período letivo seguinte. 

É claro que o ideal seria que parte significativa desses processos ocorresse ao longo do ano. No entanto, quando acontecem “décadas” nas nossas semanas, pode ser um desafio alcançar a plena produtividade nos horários coletivos das equipes – o que torna importantíssimo esse conselho de encerramento, para avançar em discussões que vão além da avaliação dos nossos alunos. 

Planejando o último conselho de classe 

Para apoiar a organização da reunião na sua escola, trago em seguida tópicos que norteiam o planejamento que pretendemos seguir no encontro final de 2022 aqui na Ivone Nunes. 

Reunião prévia com o conselho escolar

É interessante ouvir essa outra instância, que inclui membros da comunidade, responsáveis, funcionários e/ou alunos – já que os conselhos de classe nem sempre englobam mais gente além de professores e gestores. Dessas diferentes vozes, podem surgir novos olhares sobre o planejamento da escola no ano seguinte, desde o âmbito pedagógico, passando pelo administrativo e enfim chegando à esfera financeira. 

Reflexões iniciais

Embora geralmente a organização dessa parte seja feita pela coordenação, vale reforçar que esse primeiro momento pode e deve variar de acordo com o foco da reunião. Já iniciamos alguns com ponderações que buscavam unir a equipe; em outros, fomentamos autoavaliações logo de cara; e já levamos textos mais densos, que buscavam iniciar debates pedagógicos. Defina seu objetivo para esse momento e reserve um tempo considerável para que ele não seja subutilizado. 

Avaliação dos estudantes

Como comentei anteriormente, embora muitos acreditem que as avaliações ao longo do ano já teriam “sentenciado” a aprovação ou a reprovação, a decisão aqui deve ser tomada em uma “outra linha”, para além do rendimento atual do aluno. A pergunta deve ser: “Meu estudante apresenta bases para acompanhar o período letivo subsequente ao que está?”. Mesmo em caso positivo, é preciso questionar-se: “Será necessário algum suporte para que ele avance ao longo do próximo ano?”. E, em caso de retenção, pensar: “Quais os impactos disso para esse aluno?”. Lembre-se de que essa definição deve ser individualizada e de levar em consideração o discente em sua integralidade. 

Análise dos projetos

Dezembro é tempo de avaliação geral dos projetos realizados em nossas unidades escolares. Embora seja ideal uma reflexão contínua, é neste momento que conseguimos observar de forma mais ampla os impactos das nossas ações e definimos pela continuidade, a ampliação ou o término das atividades. 

Estudo sobre espaços diversificados

Uma ação que tem rendido muitos frutos aqui na escola e que pretendemos repetir no próximo ciclo é a organização de professores e funcionários para verificar quais locais, além das salas, podem render aprendizagens potentes. Em seguida, são criados planos de aulas para esses espaços. Vocês vão se surpreender com as ideias que surgem dessa dinâmica. 

Revisitar o projeto político-pedagógico (PPP)

Ao término do ano letivo, eis uma oportunidade ímpar para pensarmos sobre, atualizarmos e adequarmos o PPP. Cabe identificar se o documento ainda faz sentido naquele território e, em caso negativo, devolver a significância. Essa atitude vai auxiliar todo o planejamento do ano posterior. 

Reflexão sobre o trabalho dos professores e da gestão

A autoavaliação docente em diversos aspectos é essencial para desenvolvermos novos combinados e regimentos nas escolas. Trata-se de um ajuste fino de qualquer planejamento. Junto dessa ação, é possível realizar uma dinâmica de avaliação da própria gestão – que, de acordo com seus objetivos, pode definir como esse processo se dará: se de forma anônima e escrita, ou de maneira aberta, seguida por um debate. 

Nunca devemos encarar o conselho de classe como um “ponto final”, mesmo que depois dele a equipe vá curtir seu merecido descanso. Caso seja devidamente planejado, com momentos definidos e controle do horário (isso é crucial!), o conselho está muito mais para “dois pontos”, já que em seguida são abertas muitas oportunidades para seguirmos potencializando nossas unidades escolares. 

Um abraço e até o ano que vem, 

José Couto Júnior é licenciado em História, tem mestrado em Educação pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e é doutorando em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2018, foi eleito Educador do Ano no Prêmio Educador Nota 10. Servidor da Prefeitura do Rio de Janeiro há 13 anos, atua desde 2019 como diretor na EM Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ).

 

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