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Acolhimento de professores: entenda as particularidades para 2023

É fundamental observar o contexto do ano letivo em que a acolhida acontece para torná-la especial e transformadora

POR:
Jonas Carvalho

“Precisamos saber que estamos sendo bem acolhidos para nos sentirmos importantes para a escola”, diz professora. Foto: Getty Images

O início do ano letivo é, para os professores, um momento permeado de expectativas, reflexões, angústias e diversos outros sentimentos que podem influenciar a atividade docente no restante do ano. Um dos recursos que a gestão escolar tem para começar bem esta nova etapa é o acolhimento de professores.

“O primeiro acolhimento do ano é muito importante, porque permite aos professores criar expectativas em relação ao ano letivo que se inicia. Por isso, [a gestão escolar] precisa selecionar muito bem o que vai fazer”, explica a consultora educacional Celina Fernandes.

Quem também reforça a influência dessa atividade nos professores é Elisa Vilalta, integrante do Time de Formadores da NOVA ESCOLA, professora de História na rede municipal de Maceió (AL) e supervisora educacional em uma escola particular. “Com a acolhida, professores novos se sentem parte da instituição, bem como serve para reforçar laços com professores antigos”, opina.

No acolhimento, todo mundo traz seus medos e inseguranças, conta Tâmila Tavares, professora na EMEI Maria José de Sousa e Silva, em Macapá (AP), cujos desafios para 2023 não são poucos. A pandemia e uma reforma na instituição fizeram com que as aulas presenciais ficassem suspensas desde 2020 até agora.

“É um momento novo para reaprender a criar atividades de forma presencial, então precisamos saber que estamos sendo bem acolhidos para nos sentirmos importantes para a escola e, assim, dar uma boa recepção para as crianças. Só o fato de olhar no olho de alguém e saber que essa pessoa está acolhendo você, nos ajuda a nos sentirmos mais seguros”, afirma a docente.

Mas, para que a acolhida seja bem-sucedida, é essencial que haja contextualização. Ela não pode ser um processo indiferente ao ano letivo que se inicia. “Não dá para começar o encontro com os professores, seja no acolhimento de início de ano ou em outro período, como se não houvesse nada novo ou como se não fosse um recomeço após um tempo em que as pessoas ficaram separadas”, afirma Celina, fazendo referência aos períodos de recesso ou férias escolares.

Diferenças entre a acolhida de 2022 e 2023

Como todo acolhimento tem um contexto, é impossível ignorar o período histórico vivido nos anos anteriores a 2023, especialmente no que diz respeito à pandemia, ao ensino híbrido e ao retorno às aulas presenciais. “Este é um momento em que as pessoas precisam ser muito acolhidas. Os professores tiveram um esforço sobrenatural para dar conta de todas as atividades ao longo da pandemia e não dá para desconsiderar isso”, diz Celina.

Cynthia Feliz, coordenadora pedagógica da EE Professor Suetônio Bittencourt Jr., em Santos (SP), atuou no acolhimento da instituição em 2022. “Havia uma necessidade de acolhida principalmente para que o professor começasse o ano com a certeza de que a escola estava voltando [ao ensino presencial]”, afirma.

Vale lembrar que esse processo ocorreu após anos de distanciamento social. “O professor precisava de um acolhimento extremamente empático”, relembra a gestora. Isso porque muitos docentes estavam acostumados com o dinamismo e o corpo a corpo em sala de aula e tiveram de abrir mão desse contato por causa da pandemia. Anos depois, precisavam ter a sensação de que tudo começava a voltar ao normal.

Tâmila, de Macapá, corrobora a opinião da gestora da escola santista. “[Em 2022], a gente retornava de um período muito grande de isolamento social, o que trouxe insegurança e dificuldade de interação. Percebi que o acolhimento foi voltado para aspectos emocionais, para mostrar que havíamos superado muita coisa. Foi um momento para agradecer a vida e tentar restabelecer a saúde emocional”, conta a professora.

Na escola de Maceió, não foi diferente. “Em 2022, estávamos com uma equipe de professores ainda bastante fragilizada, já que ninguém passou por essa pandemia e saiu cem por cento. Hoje, esse grupo de professores tem vínculos mais fortalecidos, pois o período pandêmico mostrou como a troca entre professores é importante. Isso tornou a equipe muito mais unida”, acredita Elisa Vilalta. 

O acolhimento para docentes novos e experientes

A acolhida também ajuda na integração de professores, afirma Elisa. “Para professores em início de carreira, ajuda a deixá-los seguros na nova instituição e a promover momentos de troca [com os demais docentes].” Logo, é hora de colocar todo mundo junto, na mesma página, acredita a supervisora educacional. 

Celina traz um exemplo pessoal de quando foi contratada como professora para trabalhar em uma escola no meio do ano letivo: a instituição não criou nenhuma apresentação entre os professores novos e os mais experientes – o que ela lamenta. “Não foi um acolhimento, foi uma recepção muito fria. A instituição se mostra como é nesse momento de acolhida.” Por isso, afirma, é importante promover apresentações entre professores novos e antigos, mesmo que de forma sucinta inicialmente.

Do outro lado, Tâmila sentiu o impacto do bom acolhimento após uma transferência de escola, em 2021. Com experiência no Ensino Fundamental, a professora passou a trabalhar na atual instituição com crianças. “A minha experiência não me deixava confiante para atuar na Educação Infantil, mas ao chegar na escola nova e ser recepcionada com todo mundo aberto a conversar e disposto a ajudar, passei a me sentir mais preparada e segura para executar meu papel”, revela.

Acolhimento acontece o ano todo!

A acolhida de professores tem sua importância no início do ano letivo, mas o processo deve ser contínuo. “É preciso ter coerência entre o acolhimento inicial e os seguintes para retomar expectativas, ouvir os professores e saber o que aconteceu ou não com essas iniciativas, além de apresentar elementos do que efetivamente foi feito”, explica Celina Fernandes.

Cynthia menciona que a gestão escolar deve ter uma escuta atenta dos professores e tempo para que eles possam ser ouvidos. Na instituição onde atua, assembleias escolares dos professores realizadas durante o ano ajudam a retomar pontos elencados por eles no acolhimento inicial e mantêm um canal de diálogo para trocar ideias entre docentes e gestão.

Outro ponto importante para o acolhimento durante o ano letivo é promover um ambiente de segurança para os docentes, na opinião de Elisa. “É importante mostrar que a gente [gestão escolar] joga sempre junto. Assim, os professores saberão que a escola também é deles e, com isso, se sentirão parte dela durante todo o ano”, acrescenta.

Exemplos de dinâmica para acolhida dos professores

Atividades corporais, apresentações e outras ações que estimulem o diálogo são indicadas para o acolhimento dos professores. Foto: Getty Images

A consultora Celina Fernandes sugere desenvolver atividades de acolhimento que envolvam a apresentação de conteúdos aos docentes e permitam coletar leituras, interpretações e sentimentos a partir de obras como textos ficcionais, poemas, trechos de filmes, músicas, imagens e vídeos.

“É preciso trazer elementos que permitam às pessoas interpretarem, falarem e participarem do momento. Afinal, o acolhimento é um duplo movimento de fazer algo por uma pessoa, mas também de dar espaço para que ela se manifeste. Acolhimento precisa de interação e diálogo”, complementa.

Celina também citou como exemplo de dinâmica trazer produções dos próprios professores ou de seus alunos. “[Isso] coloca essas pessoas em um lugar importante e especial, traz valorização e também o sentimento de pertencimento, já que mostra que elas fazem aquela escola acontecer.”

A ação de acolhida de professores na escola Suetônio Bittencourt Jr. incluiu atividades corporais promovidas por uma das professoras de Educação Física. “Os movimentos visam fazer a gente pensar em equipe, com todos indo e voltando juntos. É um exercício agradável que estimula o espírito coletivo”, explica Cynthia Feliz.

Outra possibilidade, de acordo com Elisa Vilalta, é a aplicação de oficinas ministradas pelos próprios docentes. “Perguntamos, durante o acolhimento, quem gostaria de trazer boas práticas. Os professores que toparam fizeram essas oficinas com os colegas. Ou seja, não é a coordenação que está dando uma formação, mas sim uma oficina de professor para professor”, conta. “Quando é um colega [transmitindo o conhecimento], o lugar de fala é diferente”, acrescenta.

A professora Tâmila Tavares conta que uma dinâmica de acolhimento de professores que marcou sua memória foi realizada quando havia acabado de se formar e estava chegando à primeira escola em que iria trabalhar.

“Todos os professores fizeram um círculo. Depois, o objetivo era dar as mãos entre si e tentar transmitir para o colega ao lado pensamentos positivos, em forma de energia, pelas mãos. Foi bem interessante, porque apesar de ninguém estar falando nada, era possível sentir a energia positiva das pessoas. Me emocionei muito”, comenta.

Acolhimento, planejamento e semana pedagógica

Gestores escolares precisam entender que o momento de acolhimento é diferente de outras atividades que também costumam ser realizadas no começo do ano. “Não é o momento de fazer planejamento, por exemplo. Isso pode ser feito antes das férias. A acolhida é o momento de potencializar as habilidades individuais e coletivas, além de promover integração”, afirma Elisa.

“É importante que [na acolhida dos professores] o teor informativo seja calibrado com outros tipos de enfoque”, comenta Celina. Para ela, em vez de apenas dar uma série de informações, a gestão pode trabalhar aspectos relacionados ao campo emocional e, principalmente, do pertencimento e da reflexão. Ao final da atividade, é possível apresentar informações relacionadas ao planejamento ou ao cronograma escolar, por exemplo.

Deve-se lembrar, segundo a especialista, que essas atividades costumam ser feitas após períodos de descanso, o que significa que é melhor priorizar determinadas ações para os professores. “A cabeça deles não está preparada, nessa hora, para receber uma série de informações ao mesmo tempo. Escolher uma ou duas propostas diferentes é o mais indicado”, diz.

A professora Tâmila também entende que o acolhimento é diferente, por exemplo, da semana pedagógica. “Esse momento de acolhida é mais voltado para recepcionar as pessoas e criar momentos de conexão, e não para tratar, logo no primeiro dia de retorno, de atividades pedagógicas ou planejamento.”

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