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Volta às aulas: preparar a sala de aula é uma forma de acolhimento

Confira sugestões para organizar o espaço, pensar as primeiras atividades do ano e começar a ressignificação da Matemática

POR:
Selene Coletti
Foto: Getty Images

Uma nova jornada nos espera: novos alunos, novos responsáveis, novos momentos para aprender e ensinar. Mesmo se você escolheu acompanhar sua turma do ano passado, eles não são mais os mesmos de 2022 – certamente trazem novas aprendizagens e experiências nesse tempo que ficaram em casa, assim como você!

Por isso, é importante pensar formas de receber e acolher as crianças. Vamos conversar um pouco sobre esse tema sob a perspectiva da Matemática.

Mas o que é acolher?

A palavra acolher vem do latim accolligere. De acordo com o dicionário Aurélio, significa “recepção, atenção, consideração, refúgio, abrigo, agasalho”. Quando se trata de Educação, acolher vai além disso. É preciso que todos os educadores compreendam que cada estudante carrega sua trajetória e tem sua forma particular de construir novas aprendizagens.

Assim, em uma turma de 20 e poucos alunos, temos 20 e poucas histórias com suas dificuldades, conquistas e superações. Por isso, acolha o que cada um traz, compreenda que cada um é diferente e tem suas próprias necessidades e leve isso em consideração ao preparar as aulas e as intervenções a serem feitas. O acolhimento vai além da primeira semana de aula.

Pensando na Matemática, está a missão de desconstruir a ideia de que ela é difícil e para poucos – inclusive, já conversamos aqui em outros momentos sobre esse assunto. E esse trabalho pode começar desde o primeiro dia.

Alfabetização matemática: preparação da sala de aula

Uma forma de acolher, no sentido de receber, é pensar a organização do espaço. Quando digo isso, não me refiro a “enfeitar” a sala com uma porção de papéis ou distribuir lembrancinhas na primeira semana. Refiro-me a pensar, como propõe Loris Malaguzzi, o espaço como um educador, que acolhe, promove aprendizagem e tem a intencionalidade pedagógica do professor.

Para a alfabetização matemática, por exemplo, escolha materiais que permitam que sua turma esteja em contato com diferentes representações numéricas, que estimulem a construção da noção de número, espaço e tempo. Também organize os “cantinhos” da sala com diferentes propostas desafiadoras, que permitam que cada um, levando em consideração suas facilidades e dificuldades, possa aprender, evoluir naquilo que já sabem.

As primeiras atividades do ano

Além de investir nesse espaço, pense em propostas que permitam (re)apresentar a Matemática de uma forma significativa e gostosa. Na primeira semana, você pode levar jogos para que sua turma interaja e se sinta pertencente, e inclusive preparar atividades que possam ser continuadas em casa. Na minha escola, demos um tangram com um recadinho para que as famílias pudessem brincar junto. Depois, cada professor pensou em propostas que envolviam o material para fazer em sala. As crianças adoraram!

Também é uma excelente oportunidade de levar desafios na forma de situações-problemas vivenciadas durante as partidas, para que a turma possa mostrar tudo o que sabe e se sinta motivada a aprender.

Proponha outros desafios para que os alunos encontrem diferentes estratégias de resolução. Utilize histórias que eles tenham compartilhado ou situações cotidianas para que percebam o quanto a Matemática está presente em tudo que fazemos.

Acolher também é fazer uma escuta ativa e prezar pela convivência

Reserve tempo para rodas de conversa que permitam estreitar os vínculos. Dessa forma, eles terão a oportunidade de se conhecer e se respeitar, além de trocar conhecimentos de diferentes áreas. Esse diálogo é muito rico e rende muita aprendizagem – inclusive para você, professor.

Não se esqueça do contrato pedagógico, ou seja, de estabelecer, de forma coletiva, as regras e os combinados da turma, que devem ser retomados no dia a dia e revistos quando necessário.

Faça sempre uma autoavaliação para que a escuta, o diálogo, a compreensão e a empatia continuem presentes em suas ações e intervenções em sala de aula.

Tenho certeza de que vocês viverão momentos de muita aprendizagem e trocas significativas – um acolhimento de verdade. Em outras palavras, você fará a diferença, o que é fundamental nesse nosso trabalho.

Um abraço e até a próxima!

Selene

Selene Coletti é professora na rede pública há 40 anos. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por dez anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio Gestão para o Sucesso Escolar, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.

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