Método científico: por que e como levá-lo para a prática
Analisar, testar e resolver são habilidades essenciais para o desenvolvimento integral dos alunos dos Anos Finais
POR: Linaldo Oliveira
Acredito que todos que estão lendo este texto vivenciaram um modelo educacional baseado em decorar teorias que depois seriam cobradas na avaliação. Raramente aprendíamos de forma contextualizada ou sequer entendíamos a aplicação e a importância dos conceitos vistos em sala em nosso dia a dia.
Confesso que, por muitos anos, não entendi a aplicação da famosa fórmula de Bhaskara e certamente estava entre as pessoas que compartilharam o meme que dizia: passou-se mais um dia e não usei essa fórmula para nada. Estudei DNA no Ensino Médio, mas foi apenas na faculdade que o entendi realmente.
Essa foi minha realidade durante diversos conteúdos que me foram apresentados ao longo da vida escolar. Agora, como professor, enfrento a dificuldade de correlacionar teoria e prática.
Letramento científico e a BNCC
Com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ficou evidente a preocupação de corrigir a distância existente entre conceitos e aplicações dentro da sala de aula. O letramento científico proposto pelo documento busca desenvolver a capacidade observatória, analítica e crítica dos alunos.
Na sociedade atual, a Educação precisa levar o jovem a compreender e interpretar o mundo natural, social e tecnológico e a transformar a realidade em que se encontra utilizando estratégias científicas. Em outras palavras, falamos em “fazer ciência”.
Entretanto, antes do verbo fazer, deveríamos enfatizar a importância de entender a ciência. De forma particular, as Ciências Naturais estão entre os componentes curriculares que abordam de forma direta a importância do desenvolvimento científico e tecnológico para estruturar a sociedade e seus efeitos nos relacionamentos humanos. Ou seja, nós respiramos ciência! Entender como dependemos dela é crucial para a formação moral, cidadã e acadêmica dos nossos alunos.
Olhando por essa ótica, entendemos que, ao desenvolver práticas que estimulem e desenvolvam a observação, a construção de hipóteses, a análise de dados e a conclusão dos nossos alunos, estamos formando indivíduos que futuramente serão mais socialmente ativos, críticos e criativos.
Método científico na prática
Assim como para tudo que é novo, costumamos sempre pensar: como vou desenvolver isso em sala? Como estimular meu aluno à investigação? Tenho poucos recursos, como posso fazer isso? Porém, às vezes você só precisa de uma caixa e um pouco de mistério.
Certa vez, enquanto assistia às aulas do mestrado, um professor renomado chegou com uma pequena caixa vermelha de plástico e nos perguntou: “O que vocês acham que tem na caixa?”, e pediu para descobrirmos sem abri-la.
Foi extremamente interessante analisar de todos os modos possíveis aquele pequeno objeto – analisar seu formato, som emitido pelo movimento do que havia dentro e imaginar tantas possibilidades de resolução.
Decidi levar a atividade para a minha própria sala de aula e desafiei os estudantes dizendo: “O aluno que me falar o que há dentro desta caixa fechará seu bimestre com média dez!”.
Em cinco minutos, a sala de aula virou um verdadeiro caos. Uma semana depois, cheguei com a caixa e perguntei: “Descobriram o que tem dentro da caixa, jovens gafanhotos?”. Para minha surpresa, um aluno levantou e disse que havia uma moeda. E não é que ele tinha acertado!
Então, eu o provoquei e pedi que me provasse. Foi assim que um aluno de quatorze anos relatou um método cheio de etapas complexas, pensadas e executadas por ele até chegar à conclusão do mistério.
Foi extremamente interessante ouvir como aquele aluno, com sua mente criativa e estimulada, pensou em vários meios de explicação possíveis.
Diversas metodologias que estão em alta hoje são baseadas nas etapas propostas pelo método científico – observação, hipótese, análise e conclusão. Quando o trabalho é interdisciplinar estimula o estudante a utilizar o conhecimento combinado de diversas áreas – por exemplo, temos o STEAM, que conecta as áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática, ou o Design Thinking, que leva o aluno a trabalhar em soluções para diversas demandas selecionadas.
Utilizar o método científico em projetos interdisciplinares
Trabalhar o método científico por meio da Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) é uma oportunidade de conectar a escola e a comunidade, construindo com alunos projetos alinhados à grade curricular de forma interdisciplinar, contextualizada e significativa.
Quando envolve uma melhoria de situações e dificuldades enfrentadas pela comunidade, os alunos costumam se sentir motivados e se engajar com as propostas. Minha sugestão é que converse com sua turma a respeito da rotina dos estudantes e as questões que enfrentam diariamente em suas comunidades. Pensar, em sala de aula, soluções para essas problemáticas geram projetos integradores que aumentam o engajamento do aluno e instigam a investigação por meio da curiosidade.
Foi assim que aprendi a utilizar o método científico e a torná-lo algo cotidiano para os estudantes. Analise, teste e resolva para formar a Educação e a sociedade do futuro.
Até a próxima!
Linaldo Oliveira
Linaldo Oliveira é mestre em Ecologia e Conservação e professor da EMEF Iraci Rodrigues de Farias Melo, em Mogeiro (PB). Foi tricampeão do Prêmio Educador Nota 10 do Instituto Alpargatas e vencedor, como Educador do Ano, da 24° edição do Prêmio Educador Nota 10 da Fundação Lemann.
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