Meninas e Matemática: sugestões para incentivá-las
Lutar contra o cenário de preconceito e desestímulo não é fácil, mas há caminhos possíveis, que começam na sala de aula
POR: Rosiane PratesOlá, colegas! Como mulher e professora de Matemática na Educação Básica, o tema meninas na área de Exatas é sempre muito presente no meu dia a dia. Porém ele ganha ainda mais relevância agora, no mês de março, no Dia Internacional da Mulher, data que nos faz refletir mais profundamente sobre a atuação, as vitórias e os desafios das mulheres na sociedade.
Quando consideramos as conquistas femininas ao longo dos séculos, em especial nessa área, ficam evidentes dificuldades, preconceitos e ações excludentes. Apesar de não existir nenhum estudo científico que ateste que os meninos são melhores que as meninas com números, a sociedade muitas vezes defende essa ideia e os incentiva mais. E pior: desencoraja e cria barreiras para as garotas.
Segundo dados da Unesco, do total de estudantes matriculados em cursos de Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática (STEM) no mundo, somente 35% são mulheres. Já no Brasil, apenas 31% dos cargos profissionais STEM são ocupados por elas.
Por muito tempo, a figura da mulher foi culturalmente (e de forma exclusiva) vinculada ao ser que cuida do lar, dos filhos e do esposo, e o envolvimento com a área científica era majoritariamente masculino. Mesmo que alguma mulher fugisse a essa regra – e temos excelentes exemplos –, muitas ficaram invisibilizadas e só foram reconhecidas tempos depois.
Leia mais: Da Antiguidade a 2020, uma linha do tempo para mostrar que a ciência também é delas
“Coisa para menino”?
Tudo isso nos permite uma reflexão ampla sobre as dificuldades e preconceitos enfrentados por nós, mulheres. Eu, por exemplo, ainda no Ensino Médio, identifiquei o apreço que tinha por estudar Matemática e Física, mas, quando era oportuno expressar essa preferência, em boa parte escutava que era “coisa para menino” e que seria melhor fazer outra formação que combinasse mais com o perfil de menina. Sem dúvida, isso não foi um estímulo!
Porém o fato de ter seguido minha vontade e debater o assunto com vocês hoje é um momento honroso, pois caracteriza a quebra de paradigmas e estereótipos de gênero relacionados à docência e à pesquisa em Matemática. Todo esse cenário mostra a necessidade de expandir o debate sobre a presença feminina nas Ciências Exatas desde a Educação Básica.
Por isso, ter propostas e ações com foco em apoiar o desenvolvimento e o engajamento das alunas é algo necessário e urgente, que deve ter início desde o Ensino Fundamental.
Precisamos mostrar que elas também podem seguir a área científica, em especial por meio da Matemática, ainda na fase escolar, com intuito de descortinar muitas possibilidades de atuação e desenvolvimento profissional, mesmo nos campos ainda dominados pelos homens.
Quando acreditamos no envolvimento e no desenvolvimento de garotas com e por meio da Matemática, estamos valorizando a atuação da mulher na sociedade e ajudando na desconstrução de preconceitos. Fora isso, também estamos incentivando políticas públicas e a ação de entidades que tenham como princípio apoiar e ampliar a presença delas em projetos e ações científicas.
Mas faço aqui um alerta! O Brasil é grande em extensão territorial e diversidade, aspecto positivo e ao mesmo tempo desafiador, pois o acesso a essas propostas pode não acontecer no mesmo ritmo, gerando, assim, desigualdades ou até mesmo centralização de políticas de apoio a meninas e mulheres nas áreas de Exatas e científica. Por isso é cada vez mais urgente falar sobre o assunto considerando também as questões de raça e socioeconômicas.
Estratégias para engajar as meninas nas atividades
Lutar contra esse cenário não é fácil, mas há caminhos possíveis que começam na sala de aula. Cara professora e caro professor, um primeiro passo é debater o tema entre grupos, com intuito de aproximar os estudantes dessa realidade.
Leitura e pesquisa
Como alternativa, é interessante um planejamento que tenha como proposta a leitura e a pesquisa sobre quem foram as mulheres que ganharam destaque no decorrer dos séculos e na atualidade por suas descobertas científicas e atuação na Matemática.
Mesmo sendo uma tarefa simples, isso permitirá o contato dos estudantes com a temática. Sempre que recorro a essa prática, percebo algo relevante. Da última vez que a apliquei em sala, foi notável como era algo inédito para meninas e meninos, e, quando consideramos a presença feminina na Matemática, é interessante que a discussão chegue a todos.
Assista a um filme com a turma
Nesse sentido, que tal trabalhar com o filme Estrelas além do tempo? Baseada em fatos, a produção (dir. Theodore Melfi, 2h07) conta a história de três cientistas negras que trabalharam na NASA durante a década de 1960, época em que computadores ainda não eram utilizados para realizar cálculos complexos, e colaboraram para a conquista espacial. Pode ser enriquecedor!
Dê voz às meninas
Outro ponto: não se esqueça de incentivar as meninas a participarem das aulas! Crie estratégias para que elas possam se expressar, apresentar soluções e compartilhar sem medo. Eu também incentivo a participação das minhas alunas em olimpíadas de Matemática e tenho visto ótimos resultados.
Matemática e tecnologia
Sei que esta pode não ser a realidade de todas as escolas, mas, quando possível, acho importante buscar parcerias com programas de formação e capacitação que envolvam a Matemática e a tecnologia como recurso didático. Por exemplo: atividades de robótica e uso de Arduíno, Scratch e linguagem Python, bem como de aplicativos como Geogebra. Isso faz com que os alunos, em especial as garotas, se familiarizem com esse universo e percebam que, se quiserem, esse pode ser um caminho para se aprofundarem.
Compartilhei algumas sugestões para aplicar em sala. E você, como atua para incentivar o protagonismo das suas alunas na área de Exatas? Aproveito para desejar um Feliz Dia da Mulher para todas as colegas de profissão, alunas, para todas as mulheres! Forte abraço e até a próxima!
Rosiane Prates é professora de Matemática dos Anos Finais do Ensino Fundamental, atua há mais de dez anos na rede pública e já integrou o Comitê de Avaliação do Município de Pinheiros (ES). Em 2022, participou da 4ª edição do Mulheres na Ciência e Inovação, programa de formação para pesquisadoras no Brasil realizado pelo Museu do Amanhã e o British Council. Também foi professora-autora no projeto Planos de Aula de Matemática, realizado pela Associação Nova Escola. Além disso, tem participação como voluntária em projetos socioeducacionais e de empreendedorismo. É licenciada em Matemática e Pedagogia, graduada em Administração, especialista em Ensino e Currículo e em Matemática na Prática.
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