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Reunião de pais e responsáveis: por que e como a gestão escolar pode potencializar esse momento

Confira dicas para organizar esse evento tão significativo a fim de criar parcerias entre a escola e a família, melhorar a convivência e potencializar as aprendizagens

POR:
José Marcos Couto Júnior
Liderança de José Marcos Couto Jr., na EM Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ), é pautada na participação efetiva de pais e responsáveis no cotidiano escolar. Entenda como estreitar esses laços durantes os encontros na escola. Foto: Acervo pessoal.

Fazem sucesso entre o público produções cinematográficas que apresentam ambientes escolares revolucionados pela presença de grandes professores. De clássicos como Ao mestre com carinho (1967), passando por Sociedade dos Poetas Mortos (1989), até Escritores da liberdade (2007), podemos acompanhar em casa ou no cinema o impacto de docentes que, de forma quase heroica, transformam salas de aula, escolas e comunidades.

Dizem que a vida imita a arte, mas, no mundo real, costumamos vivenciar algumas situações que nem mesmo os maiores clássicos conseguem reproduzir. Apesar de bons professores serem importantes para modificar realidades, quase sempre seus esforços acabam sendo limitados quando não existem políticas educacionais bem definidas e auxílio de agentes do território, de instâncias intersetoriais da saúde e da assistência social, além do apoio das famílias dos estudantes. 

Dentre todos esses aspectos, a participação de familiares e responsáveis no dia a dia dos alunos talvez seja o que nós, gestores escolares, tenhamos mais força e ferramentas para desenvolver. Se por um lado sabemos que questões sociais, econômicas e até culturais podem dificultar a relação família-escola, por outro, a consciência da potência desse laço, aliada à existência de diversos dispositivos legais, costuma ser o lado fiel da balança, mesmo em ambientes nos quais a participação dos responsáveis na escola ainda não está consolidada. 

Vamos criar esse ambiente! 

A parceria escola-responsáveis

Não consigo imaginar uma escola que alcance bons resultados de aprendizagem ou que tenha como característica ser um espaço democrático sem que exista a participação efetiva das famílias. Sabemos que a participação dos pais e responsáveis na vida escolar das crianças e dos adolescentes não pode e não deve ser pontual. Precisa ser sistemática e contínua. 

Diversas pesquisas demonstram a importância da criação de rotinas educacionais, associando-as a impactos positivos no desenvolvimento dos alunos. Esses estudos também citam a presença da família na escola. Logo, ter a participação de mães, pais, familiares e responsáveis no cotidiano da escola potencializa o processo de aprendizagem. 

A participação dos familiares deve ser incentivada e cobrada no que se refere ao auxílio nas tarefas de casa, às convocações pontuais e também à presença nas reuniões de pais e mestres. Cabe a nós, gestores, buscar estratégias para educar toda a comunidade, conscientizando quem ainda não está convencido da importância de sua presença.

Como potencializar a presença dos responsáveis nas reuniões de pais e mestres

A presença de pais e responsáveis nas reuniões escolares é garantida e exigida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de acordo com os artigos 129, 229 e 249. Inclusive, a presença nesses compromissos é uma das condições para o recebimento de recursos de programas sociais como o Bolsa Família. Para cumprir com o compromisso, os responsáveis têm o direito de se ausentar do local de trabalho para participar de reuniões de pais, quando devidamente, de forma oficial, forem convocados pelo estabelecimento de ensino onde seu filho estuda. 

Justamente por isso, é importante que nós, gestores, tenhamos cuidado para não cair na armadilha de transformar um encontro tão importante e potente em um momento “pro forma”, no qual os responsáveis se façam presentes apenas por obrigação e a escola se limite a repassar informações genéricas. 

A participação cotidiana dos responsáveis na vida escolar do aluno deve ser sempre uma meta, mas a reunião de pais e mestres é, por essência, o momento oficial desse diálogo. Para contribuir com a organização desse evento, selecionei cinco momentos que considero importantes para esses encontros. Eles são centrais na EM Professora Ivone Nunes Ferreira, onde sou diretor.

Momento para ciência do desenvolvimento dos alunos

Este deve ser sempre o objetivo principal de uma reunião de pais e mestres. Assim, garantir que uma parte do encontro seja reservada para os professores atenderem coletiva e/ou individualmente os responsáveis, tirando dúvidas e conversando sobre as melhores estratégias para o desenvolvimento das crianças, é essencial. 

Momento para prestação de contas e apresentação de projetos

É importante que a gestão comunique de forma transparente os gastos, índices e objetivos traçados para a escola. Assim, sempre que houver oportunidade, é necessário apresentar o que foi realizado (como investimentos, projetos, trabalhos etc.) para criar ocasiões em que podemos refletir e replanejar junto com mães e pais, dando sequência ao trabalho que vem sendo realizado. Para fazer isso, uma dica é sempre preparar uma apresentação de PowerPoint, Excel ou programa similar, para tornar essa parte da reunião mais dinâmica. 

Momento para formação dos responsáveis

Essa parte da reunião pode ser um atrativo para a presença dos responsáveis, porque é possível tocar em assuntos que visam o desenvolvimento de todo o território. Há um grande potencial na seleção de temas importantes para debater com a comunidade escolar, como combate ao bullying, cuidados com a saúde, inclusão de pessoas com deficiência, entre outros. Vale ativar as redes de contato e fazer parcerias, a fim de ofertar informação de qualidade e a presença de profissionais especialistas no tema escolhido. 

Momento para criação de grupos e fóruns

Há alguns meses, quando falei sobre os territórios educativos, citei a importância da existência de fóruns permanentes para auxiliar na gestão e no desenvolvimento da escola. A reunião de pais é um momento propício para angariar voluntários para esses espaços, com encontros periódicos. Gerir democraticamente, com a participação de todos, é, felizmente, um caminho sem volta! 

Momento para definir documentos e regras da escola

Desenvolver regimentos, auxiliar na elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) e definir práticas pontuais: todas são ações que podem e devem ser realizadas coletivamente com o protagonismo dos responsáveis. Dessa forma, é possível planejar e construir esboços e/ou minutas de documentos importantes antes, nas reuniões dos fóruns e/ou de professores, para depois apresentá-los para que os pais e responsáveis possam analisar esses documentos e aprová-los ou não.

Amiga leitora e amigo leitor, uma escola só tem sentido se faz sentido para aqueles que com ela dialogam. Aqui na Ivone Nunes, costumamos receber cerca de dois terços dos responsáveis nas reuniões de pais e mestres que realizamos. Assim, não temos o direito de desperdiçar a oportunidade de construir junto com essas pessoas, fazendo com que a nossa escola tenha significado e significância dentro do nosso território. 

Abraços e até mês que vem!

 

José Couto Júnior é licenciado em História, tem mestrado em Educação pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e é doutorando em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2018, foi eleito Educador do Ano pelo Prêmio Educador Nota 10. Servidor da Prefeitura do Rio de Janeiro há 13 anos, atua desde 2019 como diretor na EM Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ).

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