Como usar materiais de largo alcance ou não estruturados na Educação Infantil
Entenda como esses materiais podem contribuir para o desenvolvimento das crianças, como escolhê-los e pontos de atenção
POR: Paula SestariQueridos professores e professoras,
Sob a premissa de que a linguagem da brincadeira é o meio pelo qual bebês e crianças pequenas criam suas primeiras interações com o mundo que as cerca, as instituições têm priorizado a aquisição de brinquedos. Mas quero discutir aqui sobre o que chamamos de materiais de largo alcance ou não estruturados, com possibilidades brincantes para além dos brinquedos convencionais – eu diria que até mais potentes de contribuir com o pleno desenvolvimento das crianças.
Os materiais de largo alcance ou não estruturados estão no viés de possibilidades de criação, de incentivo para a exploração, para a experimentação e construção de novas hipóteses pelas crianças. Ao interagirem, suscitam seu repertório constituído juntamente da descoberta de novas possibilidades oferecidas pelo ambiente e parcerias que podem se tornar desafiadoras e incentivadoras.
Em cada faixa etária é possível trazer materiais de largo alcance. Quero compartilhar planejamentos da NOVA ESCOLA, entre outras sugestões para que você, professor, tenha inspirações para desenvolver projetos com materiais não estruturados em sua sala de aula.
Uso de materiais não estruturados com bebês
A inserção de materiais de largo alcance ou não estruturados pode ser realizada desde o berçário. Nessa faixa etária, esses objetos podem contribuir para o desenvolvimento dos bebês à medida que oportunizam o contato com diferentes superfícies e texturas, transitam entre os materiais que fazem parte do cotidiano e até dão a oportunidade aos pequenos de conhecer novos elementos.
Os materiais funcionam mais a partir do momento em que o bebê começa a desenvolver a capacidade de pegar e sustentar objetos nas mãos, levando-os geralmente à boca. Por isso, devem ser livres de pontas, de partes pequenas que possam se desprender e de toxicidades.
Uma estratégia bem interessante é a proposta do cesto dos tesouros com diversidade de elementos. Inclusive, aqui no site da NOVA ESCOLA, tem uma sequência para ser desenvolvida com a turma dos bebês que pode ser ampliada, a depender dos recursos disponíveis na sua instituição e dos elementos da cultura local.
A importância dos materiais de largo alcance na Educação Infantil
Na faixa etária das crianças bem pequenas, o corpo e o movimento são ainda mais o foco de exploração. Com o domínio da marcha, as tentativas discorrem em ampliar as experiências de outras possibilidades, como correr, saltar, rolar, agachar, brincar ora exposto em movimentos amplos, ora em um espaço de limitação imagética.
Nesse período, as referências construídas também possibilitam que as crianças tenham suas preferências e sejam capazes de fazer escolhas. Por meio desses dois pontos de destaque, é possível planejar atividades com materiais não estruturados para vivenciarem questões corporais. Uma dica é o plano de aula com materiais de livre escolha e o experimento de equilíbrio com materiais de largo alcance.
Entre os cuidados necessários, considero usar uma quantidade adequada de materiais para se antecipar a situações de conflito por disputa de objetos. Recomendo considerar também a segurança das crianças e, ainda que sejam momentos de livre escolha e de construção de hipóteses corporais para os pequenos, o professor será aquele que se mostra disponível para acompanhar a criança, compreendendo que o nível de desafio, bem como os interesses, serão particulares para cada um. Ainda assim, o professor pode apresentar possibilidades e realizar incentivos.
O brincar com materiais não estruturados e os experimentos
Passando para as crianças pequenas, o corpo e o movimento não deixam de ser foco de desenvolvimento das crianças, incorporando agora as possibilidades de experimentos para os materiais que estão ao seu redor. Contribuem para realizarem comparações como peso, medida e capacidade de transformação dos materiais.
Esses objetos contribuem para o desenvolvimento das crianças quando dão a possibilidade de criar, construir, desenvolver a imaginação e a criatividade, colocando em evidência o repertório histórico e cultural.
Para as brincadeiras de construir, é interessante peças de variados tamanhos, de formatos menores e maiores; e objetos com os quais se possa remodelar ao quebrar, cortar, rasgar, lixar, pintar, encaixar, montar, entre várias outras possibilidades manuais. A variedade de materiais possibilita que as crianças construam suas próprias brincadeiras, compartilhem ideias, resolvam pequenos conflitos e estabeleçam acordos e combinados.
Nesse tempo de atuação na Educação Infantil, vivencio cada vez menos as instituições fazerem solicitações de brinquedos plásticos e se dedicando em pesquisas sobre as potencialidades dos materiais que fazem parte do cotidiano das crianças e da cultura local.
Dentre esses materiais, temos os elementos da natureza, com oportunidades para, desde cedo, sensibilizar as crianças para o respeito e cuidado com o meio ambiente, reconhecendo a importância das sementes, recolhendo apenas às folhas que se desprendem das árvores, aproveitando a sombra das copas, observando os formatos e propriedades das cascas, das conchas, das pedras, entre outros.
Outro aspecto é a aprendizagem de conceitos sustentáveis como reduzir, reutilizar e reaproveitar os materiais descartáveis pensando na responsabilidade de aquisição e consumo. Nesse sentido, é preciso refletir sobre a solicitação de materiais para as famílias como garrafas pet, copo descartáveis, embalagem de iogurte e de outros alimentos apreciados pelas crianças.
Mais do que aquilo que será ofertado, está o conhecimento do que, de fato, faz sentido para a etapa de desenvolvimento de cada faixa etária alinhada à intencionalidade que o professor transmite na constituição de um ambiente de aprendizagem. Espero que essas sugestões contribuam com seu trabalho. Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestra em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.
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