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Meu aluno está se cortando. E agora?

A automutilação – ou cutting – é uma prática perigosa encontrada por muitas crianças e adolescentes como forma de aliviar o sofrimento. Conheça os principais sinais de alerta que indicam que um aluno está em risco e saiba como ajudá-lo

POR:
Ana Carolina C D'Agostini
A automutilação – ou cutting, do verbo cortar em inglês – é uma prática que consiste em ferir intencionalmente o próprio corpo por meio de cortes na pele   Crédito: Getty Images

A automutilação – ou cutting, do verbo cortar em inglês – é uma prática que consiste em ferir intencionalmente o próprio corpo por meio de cortes na pele. Embora possa ocorrer em qualquer idade, é mais comum que essas agressões se iniciem na adolescência, mais especificamente entre os 13 e 17 anos de idade. Os cortes são geralmente feitos em regiões do corpo que podemm ser facilmente escondidas pela roupa, como a barriga, as coxas e os braços.

A automutilação não é algo simples de se entender. Dizer que essa é apenas uma forma de "chamar a atenção" é uma simplificação de um pedido de socorro que não está encontrando outras formas de se manifestar. Se machucar e criar cicatrizes pode ser uma forma de falar – ou de gritar – sobre o que se está sentindo. Para um adolescente, se cortar, muitas vezes é a única forma encontrada para lidar e amenizar uma dor emocional intensa que pode, inclusive, apontar para quadros de depressão, ansiedade ou sofrimento por uma situação de violência recorrente. O bullying ou o cyberbullying, por exemplo, são fatores de risco para comportamentos autodestrutivos.

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Embora muitos adolescentes justifiquem a prática da automutilação como algo que ao provocar a dor física ameniza-se a dor psíquica, é importante que eles entendam que essa não é uma alternativa eficaz, pois traz um alívio temporário que leva a um círculo vicioso e que coloca a própria saúde e a vida em perigo. 

Um fator de risco importante para a automutilação é o incentivo. Há diversas páginas nas mídias sociais e sites focados no estímulo a práticas como essa, no qual os seguidores compartilham dicas de como fazer os cortes e postam fotos das feridas. Fazer parte de comunidades como essas provoca o encorajamento e aumenta as chances desse comportamento ocorrer, além de trazer o senso de pertencimento a um grupo, elemento importantíssimo na adolescência.  Segundo texto publicado pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), cerca de 18% das pessoas que adotaram o comportamento autolesivo começaram por causa do efeito de contágio

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Em maio deste ano, o presidente da República sancionou a lei que cria a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. A lei propõe um sistema nacional de prevenção do suicídio e da automutilação, oferecendo serviço telefônico gratuito para atendimento ao público. Além disso, o Governo Federal, via Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), lançou, em abril, a campanha Acolha a Vida, com foco na prevenção dessas questões.

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Hoje, segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que a segunda maior causa de morte entre os jovens no Brasil seja o suicídio. A automutilação, embora não necessariamente seja uma tentativa de suicídio, pode causar ferimentos graves e até mesmo a morte. Fora os riscos mencionados, pode ser um sinal de depressão, indicar a presença de pensamentos suicidas e/ou um alerta para a presença de estresse emocional intenso.

Sinais de alerta da automutilação

  • O uso de roupas de manga comprida até mesmo no calor pode ser uma forma de esconder as lesões;
  • Mudanças de humor e de comportamento, como o isolamento social;
  • Recusa em participar de atividades esportivas nas quais o jovem teria que usar bermuda e camiseta;
  • Atente-se aos jovens com autoestima baixa e que trazem falas com vazio emocional, como que são um peso, que não enxergam outras perspectivas para a própria vida ou que não merecem aquilo de bom que tem acontecido a eles;
  • As vítimas de bullying ou o cyberbullying apresentam maior risco de autolesão. 

 

Orientações para casos de automutilação

  • Trabalhe na escola formas de ajudar os alunos a lidar com questões emocionais. O ensino de habilidades socioemocionais é uma alternativa que promove a busca por mecanismos de enfrentamento mais saudáveis, além de impactar de forma positiva o autoconhecimento, a resiliência e a tomada de decisão;
  • Dê oportunidades aos jovens de encarar frustrações e conflitos sem se machucar e sem machucar o outro; 
  • Caso um professor ou outro funcionário da escola perceba que um aluno está se automutilando, encaminhe o caso para a orientação educacional para que a família possa ser acionada e o jovem encaminhado para atendimento especializado;
  • Acolha o aluno e escute o que ele está sentindo. Procure não mostrar desapontamento, raiva ou banalizar o ato;
  • Não aponte o sofrimento de alguém como frescura ou fraqueza, mesmo que os motivos possam parecer pequenos para você;
  • Se um aluno te procurar e dividir que tem se automutilado, encare essa atitude como um pedido de ajuda e um sinal que você é um adulto de confiança para ele. Procure ouvir mais do que fazer perguntas;
  • Indique serviços de apoio para casos como esse e/ou o contato de profissionais de confiança da escola;
  • Coloque-se à disposição para conversar quando o aluno precisar, assim ele saberá que não está sozinho e que poderá contar com um adulto; 
  • Observe como estão as vítimas de bullying ou o cyberbullying na escola e as acompanhe de perto; 
  • Traga práticas de Cultura de Paz e de combate ao bullying na escola;
  • Certifique-se que determinado aluno está recebendo acompanhamento psicológico, para que assim ele consiga substituir automutilação por formas mais saudáveis de se comunicar e de lidar com o sofrimento;
  • A família possui papel fundamental na compreensão desse momento vivido pela criança ou pelo adolescente. Faça a ponte entre o aluno e a família, auxiliando-o a contar o que está acontecendo e a identificar as causas do seu sofrimento.

O acolhimento, a proximidade, o diálogo e o acompanhamento profissional especializado são as melhores alternativas para lidar com a automutilação. Casos assim podem acontecer na escola e podemos nos fortalecer para identificar sinais de risco e garantir que haverá suporte emocional para diferentes formas de sofrimento e suas manifestações.

 

Ana Carolina C D'Agostini é psicóloga e pedagoga com formação pela PUC-SP, especialização em psicologia pela Universidade Federal de São Paulo e mestre em Psicologia da Educação pela Columbia University. Trabalha com projetos em competências socioemocionais e é consultora do projeto de Saúde Emocional da Nova Escola.

 

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