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Como as profissões podem ajudar no ensino da Matemática

Ao fazer com que os alunos pesquisassem o uso da Matemática nas profissões de suas famílias, a professora Ivonete Bento da Silva Dezinho deixou de ouvir "Não entendi nada"

POR:
Camila Cecílio
A professora de Matemática Ivonete Bento da Silva Dezinho entre duas alunas: ao mostrar que a Matemática é usada por todas as profissões, ela parou de ouvir "Não entendi nada"   Crédito: Laura Ávila/Nova Escola

Padeiro, garçom, arquiteto, chefe de cozinha, médico pediatra, costureira e astronauta. O que essas profissões têm em comum? A professora Ivonete Bento da Silva Dezinho responde: a Matemática. A educadora mudou a forma de ensinar a disciplina na EMEF Professor Milton D. Porto, em Naviraí (MS), ao relacionar o cotidiano dessas atividades profissionais com cálculos, unidades de medida, juros, porcentagem e orçamento. A inovação foi reconhecida por especialistas e deu a ela o Prêmio Educadora Nota 10 de 2018

As ações que a professora adotou para ensinar Matemática aos alunos do 9º ano foram compiladas no projeto De Pai para Filho: Uma Abordagem do Ensino da Matemática nas Profissões. A ideia surgiu devido à constante dificuldade dos estudantes em compreender os conteúdos. “Não entendi nada” era a frase mais ouvida por Ivonete em sala de aula. “Foi então que pensei: vou fazer com que eles descubram a aplicabilidade da Matemática por meio das profissões e com a ajuda dos seus próprios familiares”, conta. 

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A solução para trabalhar conteúdos considerados complexos pelos alunos também veio de uma lembrança da infância de Ivonete. “Meu pai trabalhava na roça, mas sabia Matemática. Ele tinha que fazer cálculos relacionados ao plantio, à colheita, ao gado e ao pasto, dentre várias outras coisas. Constatei que se meu pai sabia, poderia ser que os pais e responsáveis dos meus alunos também soubessem”, detalha. Foi aí que ela começou a escrever o projeto e traçar sua metodologia.

O primeiro momento do trabalho foi marcado pela pesquisa feita pelos alunos. Ao investigar, eles viram que a Matemática estava presente em muitas profissões. Em seguida, a professora sugeriu que cada um tivesse a liberdade para apresentar sua pesquisa da forma como achasse mais atrativa, fosse com teatro, simulação, vídeo, etc. “Para minha surpresa, essa liberdade fez com que muitos talentos viessem à tona”, lembra. Ao todo, o projeto teve 11 etapas, que estão detalhadas a seguir.  

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A estudante Sandra Maria Silva confere os conhecimentos de sua mãe aplicados na oficina de costura como parte do projeto De Pai para Filho, que levou o prêmio Educador Nota 10    Crédito: Laura Ávila/Nova Escola

Como posso desenvolver esse projeto na minha escola? 

Para aplicar esse projeto em outras escolas, a professora afirma que é preciso conhecer o público-alvo da aplicação, estabelecer parcerias entre escola, comunidade e família, e, segundo ela, o mais importante: ter uma pitada de generosidade e de vontade de fazer acontecer. Feito isso, mãos à massa. 

Para a construção do projeto conceitual, somando a operacionalização, foram 12 meses. A etapa de concepção teórica levou seis meses, nos quais foram realizadas: pesquisas, revisões bibliográficas e documentais. A práxis foi segmentada em 11 etapas, cada uma respeitando o tempo e individualidade dos discentes. As atividades foram desenvolvidas em duas aulas semanais.

1. Apresentação do projeto (primeiro para direção e coordenação, em seguida para os alunos)
2. Debate com os alunos: apresentação do vídeo Preste atenção na Matemática e texto A Matemática está em tudo
3. Pesquisa em grupo de uma profissão: garçom, padeiro, astronauta, médico, arquiteto e chef de cozinha. Apresentação da pesquisa (slides, vídeos, teatro, simulação, seminário)
4. Elaboração, aplicação e correção de situações-problema (múltipla escolha)
5. Listagem de conteúdos e organização de murais
6. Apresentação do projeto para os pais ou responsáveis, com produção de convite que pode ser em texto ou mesmo vídeo
7. Levantamento dos conhecimentos matemáticos que os pais ou responsáveis utilizam em suas profissões para criação de questionário
8. Apresentação do levantamento feito com os pais ou responsáveis em uma roda de conversa
9. Elaboração em grupo de situações-problema (organização e aplicação)
10. Apresentação para a turma das situações-problema elaborada pelos grupos, com correção coletiva e discussão
11. Apresentação das atividades desenvolvidas durante o projeto para as famílias e comunidade escolar

 

De Pai para Filho: Uma Abordagem do Ensino de Matemática nas Profissões – por Ivonete Bento da Silva Dezinho

A professora de Matemática Ivonete Dezinho com alunos de Matemática  Crédito: Laura Ávila/Nova Escola

INDICAÇÃO: Fundamental 1 e 2
DISCIPLINAS: Matemática
DURAÇÃO: 6 meses a 1 ano

O que é o projeto?
O projeto foi elaborado com o intuito de fortalecer uma relação entre  a Matemática e sua aplicabilidade nas profissões. “Além disso, o objetivo era identificar o modo como os pais ou responsáveis aplicam a Matemática no cotidiano”, conta Ivonete.

Do que vou precisar?
O projeto faz uso de diversos materiais, a grande maioria disponíveis na escola, em especial no laboratório de recursos midiáticos:
- Computadores e notebooks
- Aparelhos celular
- Caixa de som
- Impressora

Quanto ao material contínuo:
- lápis, caneta e pinceis
- Papel sulfite, cartolina e papel Kraft
Além disso, é importante contar com a força de trabalho dos participantes externos (profissionais da cidade e familiares), que acabam se tornando parceiros do projeto.

Quais os objetivos trabalhados?
Resolver e elaborar problemas que envolvam as grandezas comprimento, massa, tempo, temperatura, área, capacidade e volume sem o uso de fórmulas, inseridos, sempre que possível, em contextos oriundos de situações reais e/ou relacionadas às outras áreas de conhecimento.

E os desafios? Como encará-los?
- Romper o bloqueio atitudinal dos alunos para com a Matemática
- Empoderar os pais, com intuito de demonstrar que seu conhecimento prático é relevante e que poderia ser significativo na aprendizagem de seus filhos
- Estabelecer a relação dialógica entre ensino x prática x possibilidades futuras no campo de atuação.

E no final? O que meus alunos vão aprender?
- Os alunos vão perceber que são capazes de criar, ler e interpretar situações problemas;
- Os alunos vão ver que é divertido aprender Matemática junto com os colegas;
- Que o "bicho papão" da  Matemática não é tão poderoso assim;
- Pluralidade de temas que envolvem a Matemática;
- A Matemática dos livros didáticos pode ser vista como algo que não “necessariamente” precisa estar engessada em fórmulas;
- Os alunos vão desenvolver aspectos de liderança e ver que possuem talentos na área tecnológica e na relação dialógica;
- Os alunos vão perceber que os pais ou responsáveis possuem estratégias de cálculos próprias e interessantes;

Além dos novos conhecimentos conceituais específicos da Matemática, o resultado latente foi: aproximar laços, conhecimentos e sonhos dentro do chão da escola. “O projeto trouxe o pai para dentro da escola. O filho viu no pai um conhecimento vivo colocado em prática e isso fortaleceu os laços de amizade e respeito entre eles”, afirma Ivonete. “Os alunos começaram a imaginar exercer profissões que até então não haviam pensado”. Segundo ela, isso deu aos estudantes a percepção de que, não importa qual seja a profissão, do trato da terra até as experiências astronômicas, fica a reflexão de que a Matemática está em tudo.

O projeto teve desdobramentos?
O impacto do projeto é percebido por duas perspectivas: na parte pedagógica com estímulo na criação de novos projetos e incentivo de elaboração de novas propostas pelos colegas de trabalho. No quesito aprendizagem, o projeto proporcionou aos alunos conhecer novas formas de aprender valorizando seus conhecimentos prévios e os conhecimentos de todos os envolvidos no projeto: professores, profissionais e familiares.


Ivonete Bento da Silva Dezinho é professora há 33 anos com formação acadêmica na área do Magistério e Matemática. Nascida no Nordeste, acredita piamente no poder da Educação. Traz no coração a necessidade de transformar toda “seca”, ou seja, as dificuldades em “florada”, isto é, leveza do conhecimento para seus alunos.

 

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