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Como utilizar jogos na sala de aula e a distância?

Saiba como escolher o melhor formato e quais orientações oferecer para sua turma

POR:
Selene Coletti
Foto: Getty Image

Trabalhar com jogos não é nenhuma novidade para muitos professores. É um tema que está nas pautas formativas e nos conteúdos direcionados aos educadores. Entretanto, há certos entraves para que chegue na prática de forma concreta.

É visto por alguns professores como um passatempo, como algo para ser dado em dias de chuva ou quando há poucos alunos em sala. No entanto, jogos educativos são uma excelente estratégia para trabalhar diferentes habilidades e competências, principalmente as que se referem à Matemática.

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A teoria nos mostra que o jogo não é apenas diversão. Ele é responsável por favorecer o desenvolvimento afetivo, cognitivo e moral, além de permitir ao aluno estabelecer relações e resolver problemas. E você, acredita no jogo como estratégia didática? Ele está presente em sua rotina de forma permanente?

Jogo ou exercícios: qual a diferença?

Quando propomos um jogo em sala de aula estamos possibilitando que nossos alunos possam coordenar pontos de vista, elaborar estratégias, interpretar as jogadas dos colegas, respeitar as regras, aplicar e exercitar com significado as operações matemáticas.

Contribuímos com a construção da autonomia intelectual – estimulando a criança a pensar por si mesma – e a autonomia moral, encorajando o entendimento da regra e a construção de outras com o grupo, além da cooperação entre os pares. Para o professor, o jogo permite conhecer como a criança pensa e o quanto ela sabe ou ainda precisa saber a respeito do que está sendo proposto.

Quando aplicamos apenas uma lista de exercícios, sejam contas ou “problemas prontos”, estamos impedindo que nossos alunos pensem a respeito do que está sendo proposto, uma vez que apenas precisam resolver para chegar ao resultado final. Tal fato não demonstra se realmente entenderam a situação proposta.

Ao contrário de quando trazemos um jogo envolvendo a soma, por exemplo, em que as crianças precisam somar dez com as cartas do baralho de 1 a 9 e possuir um número maior de cartas ao final para ser o vencedor. Nesse caso, podemos perceber quem consegue decompor os números, o que não seria possível ser observado numa lista de exercícios.

Eis aqui um ponto para pensarmos: será que ao elaborar atividades para serem feitas em casa o melhor é enviar “folhinhas e mais folhinhas” com propostas sem sentido e significado para as crianças? Será que o jogo não pode ser uma estratégia melhor até mesmo à distância?

Como escolher um jogo para sua turma?

Escolher um jogo para ser trabalhado em classe (ou mesmo para casa) implica em um trabalho de planejamento prévio. Ou seja, é necessário saber onde se quer chegar para escolher o jogo mais adequado, bem como organizar o espaço, o tempo e as intervenções a serem feitas.

Você pode escolher um jogo para introduzir um novo tema, para aprimorar conceitos que estão sendo trabalhados ou mesmo aqueles em que os alunos apresentem dificuldades. Há uma enorme quantidade de jogos que podem ser comprados ou confeccionados, possíveis de serem encontrados com uma busca na internet.

Mas como escolher? De acordo com Constance Kamii e Rheta De Vries, é preciso analisar se o jogo escolhido possui algo interessante e desafiador para as crianças, pensando em desafios possíveis. A ideia de desafio precisa ser bem analisada pois se trouxer algo que esteja muito além ou aquém, o jogo perde seu objetivo -  o de desafiar, motivar.

Outro critério é o de permitir ao aluno uma autoavaliação a respeito de sua própria ação no jogo – como foi sua atuação, as dificuldades e facilidades, as estratégias usadas. E por fim, possibilitar a participação ativa de todos os jogadores do começo ao fim do jogo.

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Esses critérios trazem algumas implicações práticas. Mostram que um jogo precisa ser jogado várias vezes para que os alunos possam se apropriar do mesmo, criar estratégias e construir os conceitos que estão sendo trabalhados. As autoras citadas dizem também que um bom jogo é aquele que a criança pode jogar de maneira lógica e desafiadora para si mesma e para o seu grupo.

Para isso o professor precisa organizar os materiais a serem utilizados, trazendo-os de forma suficiente para todos os alunos. Deve organizar o espaço da sala e o tempo destinado à prática.

Necessita também que o professor se organize para observar como os alunos estão jogando, quais estratégias estão usando para poder fazer boas intervenções que os levem a pensar sobre suas jogadas e avançar na construção dos conhecimentos.

As intervenções do professor e as problematizações

Para intervir é preciso observar. O professor deve ser um observador, um pesquisador. Observando como a criança joga é possível conhecer o seu modo de pensar ajudando-a a compreender os procedimentos utilizados e a superar suas dificuldades.

Mas como intervir? Na verdade, o mínimo possível quando se refere à direção do jogo já que as crianças precisam saber começar, organizar e dar continuidade ao mesmo. Quando se percebe que o aluno não está compreendendo as regras, por exemplo, é possível retomá-las por meio de questionamentos com o grupo, de forma que ele próprio consiga perceber.

É preciso estimular o pensamento da criança, colocando “a questão certa no momento certo”. Para tanto é fundamental estar atento as jogadas para entender como o aluno está pensando.

De acordo com a teoria, uma boa intervenção não se prende à correção de respostas ou a sugestão de jogadas melhores, mas, sim, no sentido de permitir que o grupo perceba como cada um está pensando, coordenando pontos de vista, aprimorando as jogadas e construindo os conceitos desejados.

Para isso, intervenções são feitas durante o momento em que os alunos estão jogando. É possível problematizar solicitando que expliquem como realizaram uma jogada ou por que tomaram determinada decisão. Mas é preciso ter a medida certa dessas questões, tomando o cuidado de não quebrar o prazer do jogo.

Trabalhar com jogos requer frequência no seu uso, dar voz e vez ao aluno, pesquisar a própria prática enquanto professor, evoluindo na forma de elaborar boas questões. É um exercício constante de ampliar o olhar para o jogo e o jogar.

O jogo como recurso das aulas remotas

Mas você deve estar pensando, se o papel do professor no jogo é tão importante, como utilizá-lo nas tarefas de casa ou nas aulas remotas?

Como mencionado anteriormente, o jogo surte um efeito maior do que “folhas e mais folhas de atividades”. É importante escolher jogos que atendam às necessidades dos alunos nesse momento. Rever o planejamento inicial permitirá escolher bons jogos para serem enviados para casa do estudante.

É importante lembrar que a família não é a professora ou o professor e por isso não haverá intervenções e nem tão pouco um foco pedagógico – este pertence ao professor ao fazer a escolha. O objetivo será o de jogar pelo simples prazer, por pura diversão.

A família poderá ensinar a regra e os princípios de qualquer jogo – esperar a vez, não descumprir a regra e nem trapacear. Dessa maneira, ao escolher os jogos para serem enviados – há muitos que podem ser utilizados – o professor precisa ter claro qual o seu objetivo com aquele jogo. Ao jogar repetidas vezes em casa, a criança estará se apropriando dos conceitos nele envolvidos.

Se o escolhido for um jogo de percurso pode-se trabalhar o termo a termo, a noção de quantidade, espaço, dentre outras. Ao propor o jogo em família, enquanto jogam, as crianças estarão não só desenvolvendo as habilidades como trabalhando as noções matemáticas envolvidas no jogo e isto trará muitos benefícios na volta às aulas no que se refere à aquisição dos conceitos matemáticos em questão.

Jogos como “bingo de números”, dominó e suas diferentes variações, jogo da memória, boliche, jogos envolvendo as cartas do baralho, de percurso (já conversamos sobre isso num outro artigo) são algumas possibilidades para serem enviadas em tempos de isolamento social.

Lembrando que é necessário ter muito claro os objetivos e o que está sendo trabalhado com cada proposta enviada. Assim na volta, sua classe estará melhor do que quando saiu e seu olhar mais ampliado, abraçando essa estratégia que tanto dialoga com os interesses das crianças e com os do professor.

E então, o jogo pode ocupar um novo lugar nas suas propostas de aulas, sejam presenciais ou remotas?  Vamos ampliar nossos olhares?

Até a próxima,

Selene

Selene Coletti é professora há 39 anos na rede pública. Atua na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos tendo trabalhado do 1º ao 5º ano. Recebeu, em 2016, da Fundação Victor Civita, o Prêmio Educador Nota 10 com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada do município. Atualmente é formadora da Educação Infantil, na Prefeitura de Itatiba.

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