Semana Pedagógica abre caminho para preparar o ano letivo na rede pública
Momento é de acolhimento aos professores, organização de encontros formativos e, principalmente, de planejamento coletivo para o período que está por vir
POR: Carol FirminoSe o planejamento escolar já é determinante em qualquer contexto, depois de um complexo biênio pandêmico (2020-2021) essa organização se torna ainda mais relevante em 2022. Assim, a Semana Pedagógica, que promove o encontro entre gestores e professores para discutir os 200 dias do ano letivo que se tem pela frente, é a melhor representação do “por onde iniciar os trabalhos”.
Esse período de planejamento pode receber diferentes denominações de acordo com a rede de ensino. Em comum, representa o momento em que os professores estão de volta no início do ano letivo e os gestores começam a conduzir esses encontros que, normalmente, se iniciam no final do ano anterior, quando a transição começa a ser delineada.
“Essa semana sempre foi importante, mas agora se tornou fundamental. Será o reencontro de muitos profissionais, que não estiveram juntos anteriormente devido à covid-19, para conversar sobre um novo cenário, com o ensino híbrido”, destaca Maura Barbosa, formadora da Comunidade Educativa CEDAC e especialista em gestão escolar.
Ela explica que também é o momento de analisar os resultados do ano anterior, a fim de estabelecer as metas de aprendizagem e determinar como serão colocadas em prática.
Os principais desafios da Educação no início de 2022
Veja reflexões a respeito de quatro pontos essenciais para o planejamento deste ano: o retorno às aulas presenciais, o combate à evasão, a estruturação da recomposição de aprendizagem e o acolhimento aos alunos.
Por exemplo, olha-se para as aprovações e reprovações, observa-se o investimento na alfabetização, para decidir em quais pontos ainda é preciso investir, e estuda-se a trajetória dos alunos com dificuldades de aprendizagem.
Depois de fazer um diagnóstico dessas necessidades, uma projeção é realizada e deve seguir um calendário. Ela leva em consideração as prioridades que os envolvidos na Semana determinam ao analisar falhas, lacunas e expectativas.
Segundo Maura, isso é necessário para decidir o que será resolvido no primeiro bimestre e o que ficará para o seguinte, algo essencial para que não se perca o fôlego no meio caminho e as soluções de fato apareçam.
“É a hora de pensar no projeto educativo da escola e no seu Projeto Político Pedagógico (PPP). Diante disso, direção e coordenação estabelecem um cronograma de atividades da Semana Pedagógica, para que todos possam participar, ficar a par da situação atual e ajudar nas tomadas de decisão. O objetivo é pensar no que faremos para assegurar o direito das crianças de aprender”, detalha a especialista.
Vale lembrar que o planejamento não se restringe apenas a esse período da Semana Pedagógica, já que os replanejamentos são constantes no cotidiano escolar, em momentos como reuniões bimestrais, conselhos e mesmo HTPCs (horários de trabalho pedagógico coletivo).
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Como retomar a jornada
Na EMEB Philomena Zupardo, Escola Municipal de Educação Básica em Itatiba (SP), a Semana Pedagógica tem o nome de Semana de Planejamento e é organizada pela Secretaria da Educação da rede pública junto aos gestores da instituição.
Selene Coletti, colunista da NOVA ESCOLA e vice-diretora do colégio, ressalta que muitas vezes o período para esse encontro é mais curto, mas não deixa de contemplar uma pauta de reflexão e formação para os professores que vão retomar a sua jornada no ambiente escolar.
“Cada escola faz sua autoavaliação para ver o que deu certo ou não. Quando conseguimos refletir sobre isso e pensar em ações para serem colocadas em prática com os alunos, é possível organizar atividades pelo menos para um semestre. No nosso caso, o foco será a leitura”, explica Selene.
João Paulo Pereira Araújo, diretor da Escola Estadual Doutor Pompílio Guimarães, em Leopoldina (MG), reforça essa ideia e acrescenta que a Semana Pedagógica contempla análise, desenho de projetos e fortalecimento do time de professores e funcionários. “Se a gente partir do princípio de que a escola é uma construção de todos e que o bom resultado não é apenas de um professor, um diretor ou um funcionário, a Semana é importante porque faz com que o time interaja, se conheça e sonhe junto.”
O diretor ainda ressalta que, tanto no caso de uma experiência positiva quanto de uma negativa da Semana Pedagógica, os reflexos se estendem para os meses seguintes. “Essa é a base do ano letivo, é quando tudo se alinha para a definição de um propósito.”
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Acolhimento
Três pilares importantes que compõem esse momento são acolhimento, planejamento e recomposição de aprendizagens. Sobre o primeiro, João Paulo lembra que o país ainda vive um período de pandemia, e as pessoas esperam ser acolhidas.
A escola também recebe professores novatos todos os anos, e olhar dessa forma para eles e para os que já fazem parte do quadro docente impede que a volta às aulas vire uma simples rotina. “Esses profissionais precisam sentir que a coordenação da escola e os gestores estão prontos para caminhar junto com eles e que isso se manterá ao longo do ano.”
Na EMEB Philomena Zupardo, Selene conta que, em 2021, esse acolhimento começou com uma leitura, um mimo e bolo com café para que todos pudessem conversar e se apresentar. A vice-diretora ressalta que preparar o ambiente, a fim de que ele seja aconchegante, faz parte desse momento: “O texto que escolhemos foi mais pessoal, mas possibilitou uma ponte para discussões profissionais. Houve a apresentação de toda a equipe, incluindo professores, inspetores e responsáveis pela limpeza. Começamos com aquilo que deu certo, mostrando experiências e resultados, visando fortalecer os laços com todo o grupo”.
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Planejamento
João Paulo detalha que, na EE Doutor Pompílio Guimarães, o primeiro dia é destinado à recepção dos professores, dinâmica de boas-vindas, apresentação do manual escolar do ano anterior e discussão sobre possíveis mudanças.
Inclui, ainda, divisão das salas entre os docentes, consolidação do calendário anual, análise dos livros didáticos e outras questões mais técnicas. No segundo dia, são feitas visitas às casas dos estudantes, além de um bate-papo guiado por vídeos inspiradores de projetos realizados no colégio.
Nesse dia, também é sugerido um formato de planejamento das aulas. Já no terceiro encontro é realizado um estudo mais aprofundado sobre os currículos do Estado – considerando agora a chegada do Novo Ensino Médio – e como alinhá-los de forma interdisciplinar. No quarto dia, os professores são convidados para assistir a uma palestra sobre liderança, que aborda questões socioemocionais, e fazem um lanche na companhia dos colegas.
Por fim, no último dia, as ideias de projetos são avaliadas em conjunto e todos colocam a mão na massa, organizando e decorando a escola para receber os alunos.
O diretor destaca que o planejamento suscita algo mais prático por parte dos professores, ainda que não 100% definido, porque a escola é construída ao longo do ano também por estudantes, famílias, gestão e coordenação.
“O dia destinado a visitar as casas de alguns alunos é determinante para o planejamento. Às vezes, o professor tem uma ótima ideia, mas que não se aplica à nossa realidade. Então, os planos vão se concretizando conforme ela se torna conhecida e os outros atores começam a participar”, exemplifica. Além disso, ele diz que tudo o que é construído recebe uma devolutiva da coordenação, como feedback sobre plano de aula alinhado ao currículo e muito diálogo.
Recomposição de aprendizagens e combate à evasão
Essa perspectiva levantada por João Paulo vai ao encontro do que Selene pontua sobre teoria e prática. “A equipe gestora precisa determinar o que vai ser trabalhado teoricamente com os professores para que eles saiam das reuniões pensando em suas ações”, afirma.
Leia também: Os caminhos para a recomposição de aprendizagens pós-pandemia
Ela dá o exemplo do que as escolas da rede que aderiram ao Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) podem fazer: “Trazer esses dados para o grupo analisar é importante. Podemos olhar para as produções de texto dos alunos dos anos avaliados para pensar o que está bom e o que precisa melhorar. Se estamos com dificuldade na questão da leitura, isso tem que estar no planejamento e o grupo tem de fazer acontecer”, completa Selene.
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Selene explica que as classes têm suas especificidades e que, olhando para isso, junto com o que se estudou sobre os resultados do ano anterior, é possível avaliar o currículo e estabelecer adequações.
“O que ainda é pertinente e o que precisa ser revisto? É necessário pensar nos redirecionamentos dos conteúdos e das necessidades a serem trabalhadas ao longo do ano com cada sala”, aponta.
A vice-diretora lembra que toda essa ação deve ser conduzida a partir dos dados obtidos com os diagnósticos realizados pelo grupo, priorizando a exposição de boas práticas – para poder reforçar o que está dando certo e organizar o apoio pedagógico aos alunos – e consertar o que não funcionou.
Com relação a esse ser o momento de realizar a busca ativa e tratar da evasão escolar, João Paulo fala sobre o esforço que a EE Doutor Pompílio Guimarães faz para evitar que o aluno deixe de frequentar o colégio e alerta para a prevenção – ou seja, agir antes que esse desligamento aconteça.
E, se ocorrer, Maura Barbosa, da CEDAC, salienta a necessidade de um plano para trazer esse aluno de volta, considerando a leitura do cenário sem buscar os culpados, já que é preciso levar em conta as dificuldades da família desse aluno como um todo.
Integração entre escola, alunos e famílias
Colocar famílias e alunos no centro da Semana Pedagógica é outro aspecto relevante, segundo João Paulo. “Neste ano, pensamos em uma reunião com os pais antes de as aulas começarem, para que os professores já fiquem mais próximos”, conta o diretor. Ele sugere que sejam compartilhadas as informações com os docentes sobre a frequência dos familiares em reuniões da escola, a fim de traçar uma estratégia para chegar até aqueles que comparecem menos.
Maura Barbosa lembra que, após dois anos longe do colégio fisicamente, por causa da pandemia, outras demandas de pais e alunos vão aparecer para que os professores, a coordenação e a gestão deem conta. Ela explica que isso envolve desde a orientação para cada aluno levar a sua própria garrafinha de água até a apresentação do projeto pedagógico da escola para a comunidade.
Por fim, a especialista alerta que o ano letivo de 2022 precisa desafiar os alunos dentro e fora da sala de aula para que eles se sintam motivados. “Nesse caso, as diferentes modalidades culturais são importantes. Precisamos pensar nas formas diversas de expressão, seja na música, na dança, no teatro ou no esporte.” Além disso, ela pontua que muitos podem voltar afetados de várias formas pela pandemia, o que merece atenção especial. “Temos de determinar o que a escola deve oferecer ao estudante para que ele se sinta bem”, conclui.
Dicas para organizar a Semana Pedagógica
Confira sugestões para deixar os encontros mais produtivos
- Crie um ambiente físico acolhedor para receber os profissionais, mas cuidando para que o momento não se torne apenas um grande bate-papo sobre as férias.
Estabeleça um contrato pedagógico com o grupo e reforce a seriedade desse encontro para alinhar as demandas do colégio.
Reserve um momento para que os professores possam organizar fisicamente a sala de aula e os materiais.
Faça uma análise para decidir quais projetos devem continuar e quais precisam ser revistos.
Dê a devolutiva de avaliações e autoavaliações realizadas pelos professores ao final do ano anterior e sugira caminhos para os problemas identificados.
Realize um diagnóstico a partir dos dados levantados sobre as turmas para conhecê-las e traçar as metas do ano que começa.
Identifique as conquistas e as dificuldades encontradas pela escola, sempre com bom senso e sem ataques pessoais.
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