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Educação Infantil: propostas para brincadeiras de roda e danças circulares

Iniciativas envolvem bebês e crianças em atividades que englobam gestos e movimentos, promovendo ricas experiências culturais e sociais

POR:
Paula Sestari
Foto: Getty Images

Olá, professoras e professores, tudo bem? Na nossa última conversa, falei um pouco sobre intencionalidade pedagógica nas práticas docentes com os bebês e as crianças da Educação Infantil. Por meio de alguns pontos de atenção na estruturação do planejamento, vimos que é possível garantir um contexto educativo de qualidade. 

Pois bem, seguindo nesse raciocínio da intencionalidade, hoje quero compartilhar algumas ideias sobre um dos pontos que mencionei na coluna anterior, o dos momentos conduzidos – e, como referência, vou partir das brincadeiras de roda e das danças circulares, encarando-as como meio de experiência cultural regional, que rendem sugestões de propostas para realizar com as crianças. 

No que consistem essas brincadeiras?

Antes de mais nada, é importante ter em mente que os momentos envolvendo roda e danças circulares são a essência de muitos povos, como os africanos e os indígenas. Ao se organizarem esfericamente, eles compartilham ensinamentos e realizam rituais que marcam as transformações dos seus membros, daqueles que fazem parte da vida em grupo.  

Uma roda como essa oferece a possibilidade de encontro ao propiciar experiências como o toque das mãos, a possibilidade de todos se olharem, a própria sensação de segurança por estar entre seus iguais, além de uma busca pela sincronia nos gestos, na troca de olhares e nos movimentos solidários – uma vez que existe nessa composição uma espécie de compromisso com a harmonia do grupo. 

Dessa forma, quando pensamos nas brincadeiras de roda e nas danças circulares com as crianças, vemos que elas estão situadas no campo das brincadeiras simbólicas e do faz de conta, permitindo que experimentem condutas, falas e movimentos – capazes de elaborar o modo como vivenciam a realidade e as interações que estabelecem com as outras crianças e com os adultos.

Por conta disso, é interessante sublinhar que são práticas que promovem o desenvolvimento dos pequenos envolvendo todos os campos de experiências.

Como colocar essas atividades em prática?

Esses momentos conduzidos se iniciam fazendo um convite às crianças: primeiro, para o deleite da canção, que pode ser entoada pelo professor e acompanhada de um instrumento musical, como o violão, ou com a marcação do ritmo com um pandeiro, chocalho ou tambor. 

Outras possibilidades incluem apresentar as músicas por meio de recursos de áudio ou vídeo; nesse segundo caso, as crianças têm a oportunidade de observar outros grupos em momentos de interação em roda e analisar suas expressões, gestos, movimentos, trajes e adereços que comunicam elementos da cultura. 

Depois, chega a hora de motivar o grupo a realizar esses gestos e movimentos, que incorporam sentido ao ritmo da canção. Esses momentos são enriquecidos pela interação entre diferentes agrupamentos, pois os maiores podem atuar como mentores dos menores, tal qual ocorre nas rodas culturais de muitos povos que mencionei no início desta coluna. 

Propostas de brincadeiras de roda e danças circulares

A seguir, apresento algumas sugestões de propostas, lembrando sempre que essas ações devem fazer parte de uma rotina e ser apresentadas em diferentes oportunidades para que as crianças experimentem todo o valor cultural da língua, das gesticulações e das movimentações que essas músicas proporcionam em uma brincadeira de roda. 

Brincadeiras de roda da cultura africana 

Para compartilhar elementos culturais desse continente em danças circulares, uma sugestão é partir do livro O Lê Lê, uma Antiga Cantiga da África, de Fábio Simões (autor) e Marilia Pirillo (ilustradora), da Editora Melhoramentos. O professor pode começar fazendo a leitura em voz alta e depois exibir as imagens que compõem a obra. 

Em seguida, é hora de as crianças apreciarem a cantiga que o livro aborda, Olélé Moliba Makasi, disponível neste vídeo. Os gestos de marcação devem ser realizados de acordo com a faixa etária: por exemplo, com bebês, podem ser por meio de palmas; com crianças bem pequenas, movimentando-se em círculo; já com as crianças pequenas, é possível alternar gestos e movimentos, como aparece neste vídeo de outra cantiga de roda africana, do grupo Palavra Cantada.

Atividades de Educação Infantil: Planejamentos alinhados à BNCC

Neste curso, você conhecerá experiências e indicações que ajudam a realizar um planejamento completo, alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e plenamente voltado aos interesses e à perspectiva das crianças que frequentam a Educação Infantil. 

Brincadeiras de roda da cultura indígena 

A primeira dica é sucesso entre as crianças da minha escola: Yapo, canção de origem indígena da região do Pará. Ela é tão fácil quanto divertida, e além da referência à cultura, para toda palavra há um movimento a ser executado. Aliás, vale destacar que muitas cantigas tradicionais brasileiras têm referências indígenas, e às vezes nem nos damos conta.

Um exemplo é a música Itororó, que traz esta palavra-título em tupi, que significa “água barulhenta”. Nessa cantiga, é possível incluir o nome de cada uma das crianças no verso: “Sozinha eu não fico nem hei de ficar/ porque eu tenho [nome] para ser meu par”. 

Vejam, então, a possibilidade interessante que se apresenta: realizar uma pesquisa de cantigas de roda para apreciação com as crianças e, como continuidade, evidenciar termos, palavras e expressões que vêm das nossas matrizes culturais. Para isso, uma boa referência é o livro O Tupi que Você Fala, de Cláudio Fragata, da Editora Globinho. 

Brincadeiras regionais brasileiras 

Outra sugestão, esta vinda do interior do nosso país, é a cantiga Roda da Carambola, que promove a interação por meio do toque, da marcação de passos e dos movimentos coordenados do grupo. Inclusive, você pode conferir outras canções brasileiras para apreciar e compartilhar com os bebês e as crianças no álbum Parangolé, da companhia cultural EmCantar. 

Para quem deseja mergulhar nesse tema das musicalidades nacionais, aqui mesmo, no site da NOVA ESCOLA, encontramos uma sequência de planos de aula sobre cirandas do Brasil, com um passo a passo de como realizar propostas com essa temática.


Em meio a tudo isso, gostaria de enfatizar o papel do professor na ampliação do repertório cultural e artístico das crianças: trata-se de proporcionar boas vivências abordando elementos que dialogam com nossa história, a partir de experiências com o corpo e que envolvem os sentidos e sensações. 

Logo, é importante que nós, educadores, também possamos ter momentos de sensibilização musical, até porque a dança e a música exercem efeitos sobre os adultos também. Com isso, uma dica final que compartilho aqui é a proposta do projeto Danças dos Povos, que traz indicações de coreografias do mundo inteiro e que pode render momentos de interação e diversão entre professoras e professores. 

Finalizo a reflexão de hoje ressaltando como é simbólico estar em roda, quantas oportunidades de aprendizagem existem e são possíveis de serem trazidas para um grupo de crianças oportunizando essas experiências no cotidiano das relações na Educação Infantil

Um abraço e até breve! 

Paula Sestari é professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto na área de Educação Ambiental com crianças pequenas.

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