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Formação continuada: apoie a equipe para colocar em prática a Aprendizagem Baseada em Projetos

Confira um roteiro formativo para preparar os professores e conheça experiências e sugestões de especialistas e de quem já utiliza essa metodologia ativa

POR:
Paula Salas
Foto: Getty Images

Como replicar uma prática sem nunca ter entrado em contato com ela? Isso até pode ser possível, mas, provavelmente, o resultado não será o mesmo de quem já teve a experiência antes. Essa é a ideia por trás dos encontros formativos que usam a homologia de processos, isto é, que oferecem aos professores aquilo que devem levar para os alunos. Ter essa perspectiva em mente é importante para quem está planejando uma formação sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP)

[A ABP] Consiste em um método de construção de conhecimentos e habilidades por meio de um processo investigativo, cuidadosamente planejado, baseado em problemas reais, para que os alunos busquem construir ou propor uma possível solução”, sintetiza Fernando Trevisani, especialista em metodologias ativas e formador de professores. 

Como as demais metodologias ativas, a ABP favorece o protagonismo dos estudantes e a construção de aprendizagens significativas. “É um método que aproxima o aluno do aprendizado, da escola e do professor”, afirma Patrícia Costa, coordenadora pedagógica na EM Walmir de Freitas Monteiro, em Volta Redonda (RJ).  

Para Lilian Bacich, diretora da Tríade Educacional, formadora de professores e organizadora de livros na área de metodologias ativas, a ABP ganhou maior destaque no cenário atual, de enfrentamento das defasagens deixadas pela pandemia.

Isso porque o princípio da colaboração favorece a aprendizagem entre pares, facilita o trabalho com grupos mais heterogêneos e otimiza o tempo do professor em sala de aula – já que, enquanto ele está com um grupo, os demais estão desenvolvendo as atividades. 

Como levar a metodologia para os encontros formativos

As pautas das formações devem vir do dia a dia da sala de aula e das necessidades que a equipe pedagógica observa no cotidiano. É assim que surgem os temas abordados nos encontros semanais na EM Prof. Waldir Garcia, em Manaus (AM). “É professor formando professor, uma troca de experiências”, conta Amanda Freitas, coordenadora pedagógica da instituição. 

Além dessa parte prática, também há momentos de estudo coletivo e discussão de experiências de outras escolas. “Não pode faltar a teoria acompanhada da prática”, destaca a gestora. A escola também tem uma parceria com uma universidade do município. Mensalmente, um convidado dá uma formação. “Procuramos um especialista para ter um momento diferente.” 

Na Walmir de Freitas Monteiro, Patrícia observa que enviar os materiais para os professores lerem previamente funciona bem. Dessa forma, no dia do encontro, podem focar em discutir e pensar como aquela bibliografia se aplica à realidade e às necessidades deles. 

Entre os tópicos explorados, Fernando sugere discutir a definição do escopo, a questão-orientadora do projeto. “Como elaborar perguntas provocativas, abertas, que atinjam ideias que podem ser trabalhadas em diferentes áreas do conhecimento?”, indica.

Isso serve tanto para definir a pergunta central do projeto como para planejar intervenções durante o percurso. Outros assuntos a serem incluídos nas reflexões são as formas de planejar – acesse aqui um passo a passo para o desenvolvimento de um projeto – e de avaliar. 

Lilian recomenda que a coordenação construa esse processo com a equipe, ou seja, possibilite que os professores vivenciem previamente aquilo que farão em sala de aula, em vez de a gestão apresentar os detalhes da metodologia. “Da mesma forma que os professores fazem com os alunos, os coordenadores devem oferecer todos os recursos para que eles sejam protagonistas”, resume Amanda. 

Aplicação da ABP na prática

O trabalho da coordenação não termina após o encontro formativo. A gestão deve criar formas de fazer o acompanhamento dos professores, coletar informações e ajustar o percurso conforme a necessidade. “Esse processo deve ser construído coletivamente. Isso gera mais pertencimento [para os educadores], não é algo que está sendo imposto”, ressalta Lilian. 

É isso o que acontece na escola onde Patrícia trabalha. Os docentes contam como foi a semana e repensam as ações a partir das demandas dos alunos. “Temos de ouvir os professores. No início, nós orientamos; depois, eles nos trazem [as questões] para darmos um suporte”, diz a coordenadora. 

No caso da Waldir Garcia, os educadores registram seus percursos em um diário de bordo. Esse material é acompanhado pela coordenação. “[É preciso] Saber como estão em sala de aula, como podem melhorar. Vamos mudando [o planejamento] conforme o processo”, comenta Amanda. 

Assim como os alunos passam por uma avaliação, que deve ser contínua durante o projeto, o mesmo deve ser feito com o professor: “Avaliar os pontos positivos e negativos, o que poderia ser melhor”, exemplifica Patrícia. 

Ao fazer esse acompanhamento contínuo, a gestão vê o tipo de suporte que deve oferecer à equipe pedagógica. “A dica é escutar os professores e estar sempre observando para perceber o que é possível melhorar, o que está impedindo o professor de crescer, como apoiá-lo e como organizar a formação continuada”, completa a coordenadora. 

Além da escuta e de momentos de troca durante os encontros, Fernando também propõe que os coordenadores realizem observações de sala de aula. A partir do que foi visto na prática, o coordenador faz um diagnóstico do que foi bom e do que pode ser melhorado. Um ponto importante, para não criar um clima de vigilância, é apresentar previamente para o professor o que será verificado e garantir uma devolutiva após a observação.

O papel da gestão escolar para o trabalho interdisciplinar

Coordenadoras compartilham experiências para favorecer a parceria entre professores, o que torna os projetos mais ricos 

Os projetos ficam mais interessantes quando realizados de forma interdisciplinar. “Não é uma imposição, mas temos de mostrar que assim é mais eficaz. Com o tempo, os mais resistentes entendem que é melhor, que amplia o leque de possibilidades”, explica Patrícia. “Uma habilidade de Linguagens pode ser desenvolvida junto com uma de Ciências da Natureza. Conseguimos estabelecer mais conexões, uma abordagem interdisciplinar”, complementa Lilian. 

Na EM Waldir Garcia, em encontros semanais, os educadores compartilham o planejamento do que estão realizando em sala de aula. “O projeto é de um professor, mas outros se interessam e se envolvem”, diz Amanda. 

Lá, essa parceria já está bem consolidada e acontece organicamente por iniciativa dos próprios professores. Para estimular essa cultura, Amanda sugere começar desenvolvendo o senso de equipe. “Sempre tem um que gosta mais de projetos, e esse professor consegue mobilizar os colegas se tem apoio da gestão, de alguém para mediar.”

Essa colaboração, além de enriquecer os projetos e as aprendizagens, é um caminho para os professores não se sentirem sozinhos. “A escola tem de dar esse suporte para o professor e criar uma rede de apoio”, enfatiza Amanda.

Partindo da perspectiva da homologia de processos e da importância de refletir sobre a prática docente, Aline Geraldi, consultora pedagógica desta reportagem, preparou um passo a passo para um encontro formativo sobre ABP. Confira o roteiro no botão abaixo:

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