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Projetos temáticos ajudam a fortalecer a identidade da escola

Confira dicas e o que não pode faltar no momento de planejar essas propostas, que refletem a “alma” de uma unidade escolar

POR:
José Marcos Couto Júnior
Em 2022, a EM Professora Ivone Nunes Ferreira (RJ) realizou o Projeto Brasis, Cultura e Diversidade; mais de 100 responsáveis visitaram a unidade e conheceram o trabalho dos alunos. Foto: José Couto Júnior/Acervo pessoal

O que faz uma escola ser única, com identidade? Vários elementos podem indicar que uma unidade escolar é boa ou ruim, mas como saber se ela é mais ou menos apropriada para nossos filhos (falando como pai) ou alunos (do nosso ponto de vista como gestores escolares)?

Tenho certeza de que todo diretor de colégio com Educação Infantil espera que as crianças desenvolvam habilidades relativas à coordenação motora e à organização espacial e corporal. Não tenho dúvidas de que 100% dos gestores sonham que seus alunos do 1º ano do Fundamental cheguem ao mês de dezembro lendo e escrevendo fluentemente, da mesma maneira que as equipes gestoras e docentes do 6º ao 9º ano têm a esperança de que os estudantes de sua escola sejam críticos e tenham ferramentas que os auxiliem a ser protagonistas de suas vidas.

O fato é que os conteúdos programáticos e as habilidades previstas em currículos podem até sofrer mudanças de uma rede para outra, mas em geral seguem padrões que, para o bem ou para o mal, geram uma homogeneidade entre as escolas de uma cidade, de um estado, de um país. Mas existem certos espaços, documentos, planejamentos e combinados cotidianos que viabilizam a exposição da “alma” de uma unidade escolar e a tornam única.

Projetos políticos pedagógicos, projetos anuais, regimentos internos e projetos temáticos deixam, de forma voluntária ou não, bem claro que tipo de escola é a nossa. Por isso, suas escolhas, a prioridade e a seriedade que se dá à execução, a recorrência com que estes são revisitados e a diagnose se os mesmos se adaptam e se readequam, demonstram o quanto uma escola sonha ter sua identidade destacada.

Com isso em mente, amiga leitora e amigo leitor, a coluna deste mês aborda os projetos temáticos, trazendo ideias, dicas e reflexões de como construir, implementar e valorizar esse importante elemento que faz de nossas escolas lugares tão significativos, já que são diferentes de todos os outros.

Projetos temáticos: como planejar?

Se entendemos que um projeto temático tem a capacidade de expor o que uma escola pensa sobre a Educação, a sua escolha não pode nunca estar limitada a poucos sujeitos. Assim, o momento de seleção do tema deve contar com a presença de gestores, coordenadores pedagógicos, professores, responsáveis e alunos.

Caso não seja possível a reunião de todos os segmentos, levando-se em conta que, de forma geral, o esboço de temas para projetos surgem em reuniões pedagógicas, é importante que pais e alunos tenham a oportunidade de opinar, criticar, expandir, editar e até vetar um projeto se ele não for capaz de dialogar com o território.

Desde 2019, quando assumi a gestão da EM Professora Ivone Nunes Ferreira, buscamos debater temas que fossem pertinentes à comunidade, como O Quintal da Ivone, em que trabalhávamos a memória do território, ou Valores Olímpicos, já que somos uma escola vocacionada para o esporte. Assim, entender o que a comunidade escolar deseja é sempre o ponto de partida para o desenvolvimento dos projetos.

Outro movimento importante é a definição das ações, metas e culminâncias de um projeto temático. Em 2022, conseguimos trazer para a escola cerca de cem responsáveis que puderam visitar o trabalho dos alunos, uma oficina de tranças afro, uma aula inaugural de capoeira, além da apresentação de quase 20 integrantes da Companhia Folclórica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Isso só foi possível por se tratar de uma culminância do Projeto Brasis, Cultura e Diversidade, planejado seis meses antes. Somente com essa organização não nos perdemos nas ações propostas.

Quando chegamos a esse ponto, porém, é importante atentar para um fato: nem sempre aquilo que temos em mente sairá do papel como planejado, por mais fantástico que o nosso projeto seja. Assim, um projeto temático, seja ele anual ou semestral, precisa ser revisitado, replanejado e ressignificado sempre que necessário, com a presença do maior número possível de sujeitos.

Como fazer o registro das ações?

Por fim, salta-nos um último elemento, que de forma geral é ao que costumamos dar menos atenção: o registro das ações e dos projetos. Esse movimento nos possibilita criar bancos de boas práticas, trocar experiências e inspirar outros profissionais. Mesmo que tenhamos nossa identidade, parte dos nossos projetos podem ter significância em outros territórios.

Em 2018, ainda como regente, só pude participar do Prêmio Educador Nota 10 por seguir esses passos. O Caravanas, Limites da Visibilidade foi um projeto temático que começou como prática cotidiana e que por três anos ajudou a empoderar e fortalecer identidades, além de desenvolver diversas habilidades dos alunos da EM Áttila Nunes, em Realengo (RJ).

Assim, ao entender essas dinâmicas e colocar em prática projetos temáticos, estamos, na verdade, “construindo nossa escola”, única e com potencial para transformar todo o território ao seu redor.

E não é para isso que nos tornamos gestores?

Um forte abraço e até a próxima!

 

José Couto Júnior é licenciado em História, tem mestrado em Educação pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e é doutorando em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2018, foi eleito Educador do Ano pelo Prêmio Educador Nota 10. Servidor da Prefeitura do Rio de Janeiro há 13 anos, atua desde 2019 como diretor na EM Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ).