O legado de Magda Soares para a alfabetização e o letramento no Brasil
A educadora, que faleceu em 2023, é referência no assunto e foi responsável pelo projeto Alfaletrar, em Lagoa Santa (MG)
POR: Jonas CarvalhoReconhecidamente uma das maiores especialistas em alfabetização e letramento do Brasil, a educadora Magda Soares, que faleceu aos 90 anos em 1º de janeiro de 2023, deixou um grande legado para a área de Educação do país.
Professora emérita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), uma das fundadoras da Faculdade de Educação da instituição e pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale), Magda Soares é uma das principais responsáveis pelo projeto Alfaletrar, da rede municipal de Lagoa Santa (MG), iniciativa que atua para desenvolver professores em alfabetização e letramento partindo de princípios como continuidade, integração, sistematização e acompanhamento.
A educadora produziu uma extensa lista de livros acadêmicos e didáticos, sendo que a obra Alfabetização: a questão dos métodos rendeu a Magda o Prêmio Jabuti em 2017. Sua última obra foi Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e a escrever, lançada em 2020.
A NOVA ESCOLA selecionou entrevistas, reportagens e vídeos para homenagear a contribuição da professora para a Educação. Confira a seguir.
Toda criança pode aprender a ler e a escrever
O livro Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e a escrever traz as práticas de sucesso que Magda ajudou a implementar na rede municipal de Lagoa Santa (MG). “Era hora de prestar contas com o que eu fiz durante a vida. Eu quero deixar a herança desse trabalho de tantos anos”, afirmou a educadora sobre a obra.
O trabalho traz a base teórica que estrutura o projeto de alfabetização e letramento na cidade mineira. Além de se aprofundar em cada um dos princípios essenciais do projeto, a educadora traz atividades e relatos de docentes e alunos coletados durante 12 anos de trabalho na rede mineira.
“Escrevi esse material para que fosse útil para as professoras dos municípios. Tentei fazer um livro autoinstrucional, como se eu estivesse sendo orientadora nesse processo”, explicou Magda em entrevista à NOVA ESCOLA. “Esse livro, de todos que fiz, é o que me dá mais satisfação, porque foi construído coletivamente, junto com professoras e toda a rede”, complementou.
O trabalho de alfabetização e letramento em Lagoa Santa (MG)
A parceria entre a Secretaria Municipal de Educação da cidade mineira e Magda ajudou a transformar a prática de 24 escolas e quase 500 professores da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Fundamental.
- Leia também: Como trabalhar o letramento na Educação Infantil?
Professoras representantes de cada escola passaram a participar de encontros semanais que têm por objetivo disseminar aprendizados e adequar as propostas do projeto Alfaletrar – o qual não visa moldar práticas de educadores, mas orientar e apoiar a prática com base nos princípios da iniciativa. Todos os pontos são fundamentados em conhecimentos multidisciplinares das áreas de Psicologia, Fonologia e Linguística.
“Eu me transformei e aprendi muito com o projeto porque ele traz uma alfabetização que não é mecânica. Com o Alfaletrar, não existe um método ou formas de trabalhar com a criança. A gente vai criando com os alunos a maneira de trabalhar. Sugerimos e eles respondem”, contou Mirlene Barcellos Teles, representante da EM Mércia Margarida, de Lagoa Santa.
Saiba mais sobre a alfabetização na rede municipal da cidade mineira nesta reportagem da NOVA ESCOLA.
“Nunca vi um período tão assustador”
Uma das maiores autoridades em alfabetização demonstrou preocupação com as mudanças promovidas a partir de 2019, com a chegada de Carlos Nadalim à então Secretaria de Alfabetização, criada na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022). Nadalim, que atuava naquele momento como coordenador pedagógico de uma escola particular de aproximadamente 150 alunos, se posicionou contra o letramento e métodos como o global e o construtivista.
“Como aluna, vivi o Estado Novo e passei, já como professora, pela ditadura – e nunca vi um período tão assustador como esse de agora na Educação. Nós temos um ministro inexperiente e que nomeia um secretário de alfabetização com experiência mínima na área. O próprio secretário declarou que sua experiência vem de uma escola de família, pequena e com poucos alunos, e que ele criou um método baseado no método fônico. Com isso, ele vira um especialista em Educação?”, afirmou Magda em entrevista à NOVA ESCOLA à época.
A então Secretaria tinha como prioridade banir métodos da teoria construtivista e priorizar o método fônico, mudança criticada pela especialista. “Isso é mais do que um retrocesso, é um atraso de 50 anos na Educação no Brasil”, resumiu a educadora.
Leia aqui a entrevista completa.
Vídeos da coleção Alfaletrar, formação coordenada por Magda Soares
A educadora também compartilhou o processo de ensino e aprendizagem de escrita e leitura adotados na rede municipal de Lagoa Santa por meio de vídeos da coleção Alfaletrar. Neles, Magda explica aspectos como:
- - A importância de desenvolver a consciência para o som das sílabas e da correspondência entre som e letra, e como fazer isso com crianças;
- - De que maneira usar textos a favor da alfabetização, por meio de leitura, compreensão e ampliação de vocabulário;
- - Como as crianças adquirem consciência fonológica e como compreendem a escrita e descobrem as letras;
- - Qual o percurso de alunos em relação à escrita e intervenções que ajudam no processo;
- - Como ocorre o desenvolvimento psicogenético, a consciência fonológica e práticas que podem ser usadas no ciclo básico.
Assista abaixo aos vídeos da série, produzida pela Atta Mídia e Educação com apoio da Fundação Lemann, mantenedora da NOVA ESCOLA:
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