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Tecnologias educacionais: o que são e como usá-las na prática?

Saiba como levar ferramentas digitais para a sala de aula e incentivar o engajamento dos estudantes

POR:
Dimítria Coutinho
As tecnologias educacionais são grandes aliadas dos educadores. Saiba mais e entenda as possibilidades. Foto: Getty Images

Você já ouviu falar em tecnologias educacionais? O termo se refere a ferramentas usadas para potencializar a aprendizagem dentro das escolas.

Com o apoio da tecnologia, os professores conseguem manter os estudantes mais engajados, além de fomentar a criatividade e garantir o desenvolvimento de competências e habilidades previstas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A seguir, respondemos a 10 questões para ajudar você a tirar dúvidas sobre essa temática.

1. O que são as tecnologias educacionais?

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), tecnologias educacionais são processos, ferramentas e materiais que auxiliam as redes de ensino nas mais diversas funções, desde a gestão escolar até o processo de aprendizagem em sala de aula, passando pela formação de professores e pelas práticas de educação inclusiva.

Apesar do nome, as tecnologias educacionais não se referem, necessariamente, a ferramentas digitais conectadas à internet e também incluem as experiências offline. Neste tira-dúvidas, porém, focaremos nas tecnologias educacionais digitais.

2. Por que as tecnologias educacionais são importantes?

Rozelma França, professora do Departamento de Educação da Universidade Federal Rural de Pernambuco, afirma que as tecnologias educacionais digitais são importantes, em primeiro lugar, porque “se conectam com a sociedade contemporânea”.

“A educação pode fazer uso dessas tecnologias, explorando o potencial pedagógico que esses recursos podem ter para favorecer os processos de ensino e aprendizagem nas diversas áreas do saber”, diz.

Além de favorecer o aprendizado, o uso das tecnologias cumpre o que é previsto na BNCC. Tanto o documento principal, que traz a “cultura digital” como competência geral, quanto o complemento que trata do ensino da computação, esclarecem que os estudantes devem desenvolver habilidades relacionadas ao uso crítico, reflexivo e ético dos recursos tecnológicos.

Conforme as tecnologias são usadas em sala de aula, explica Rozelma, "a longo prazo, poderemos ter pessoas menos vulneráveis a ameaças de segurança digital, e mesmo envolver os estudantes em desafios sociais por meio da produção de mídias digitais".

3. Quais são os passos de implementação das tecnologias educacionais?

Apenas garantir a conexão nas escolas não é suficiente para melhorar o processo de ensino e aprendizagem. “As tecnologias digitais podem se somar aos diversos recursos já empregados pelos docentes em sala, e seu uso deve ter intencionalidade pedagógica, pois a tecnologia por si só não faz milagres”, afirma Rozelma.

O MEC ressalta que “O uso de uma tecnologia se torna desprovido de sentido se não estiver aliado a uma perspectiva educacional comprometida com o desenvolvimento humano, com a formação de cidadãos, com a gestão democrática, com o respeito à profissão do professor e com a qualidade social da educação”, em seu Guia de Tecnologias Educacionais, iniciativa que elencou ferramentas qualificadas para auxiliarem professores e gestores escolares.

 

Em entrevista à Nova Escola em 2023, Paulo Blikstein, professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e diretor do Transformative Learning Technologies Lab, explica que há três camadas na implementação das tecnologias educacionais digitais:

  1. Infraestrutura, ou seja, conexão à internet e equipamentos como computadores e tablets. Essa camada é a base para o desenvolvimento das outras duas;
  2. Tecnologias de ensino, que são ferramentas que otimizam o ensino tradicional, como aulas em vídeo e softwares de correção;
  3. Tecnologias de criação e experimentação, baseadas em metodologias ativas de aprendizagem, como laboratórios makers, por exemplo.

 

É nessa terceira camada que acontece, de fato, uma mudança significativa no ensino e aprendizagem, colocando os alunos no centro do processo e utilizando a tecnologia para promover ganhos pedagógicos.

4. Como as ferramentas digitais contribuem para a aprendizagem?

Os ganhos pedagógicos proporcionados pela utilização da tecnologia em sala de aula são os mais diversos. Os primeiros aspectos são a motivação e o engajamento. Como as crianças e adolescentes estão em constante contato com o universo digital, trazer essas ferramentas para a sala de aula é “falar a língua deles”, permitindo que interajam mais com o conteúdo apresentado.

Nesse sentido, é bastante importante estar atento aos interesses da turma. Os estudantes gostam mais de jogos ou de redes sociais? Eles gostam de produzir vídeos? Essas são algumas perguntas que ajudam o professor a escolher as ferramentas e, além disso, entender como utilizá-las de forma a despertar a curiosidade e engajar os estudantes.

 

Quando o uso das ferramentas está alinhado aos objetivos pedagógicos, é possível promover, além de engajamento, maior protagonismo. Isso porque as tecnologias digitais permitem trabalhos em grupo, pesquisas, criação de novas ferramentas e uso e desenvolvimento da criatividade.

“Se usadas com intencionalidade pedagógica, essas ferramentas podem oferecer benefícios que melhoram a eficiência, eficácia e inovação no trabalho docente, contribuindo para uma educação mais personalizada, inclusiva e alinhada com muitas demandas da sociedade contemporânea”, afirma Audaci Maria de Lima, membro da equipe técnica da rede municipal de Recife, onde já atuou como professora de tecnologia.

5. Como as tecnologias educacionais se relacionam com as metodologias ativas?

Pensar em colocar o aluno no centro do processo de aprendizagem passa por pensar na implementação de metodologias ativas em sala de aula. Esse tipo de abordagem visa tirar os estudantes da passividade das tradicionais aulas na lousa e colocá-los para aprender na prática.

Embora nem todas as metodologias ativas utilizem recursos digitais, o bom uso das ferramentas tecnológicas passa por processos baseados em metodologias ativas, como explicou Paulo Blikstein. O ensino híbrido, por exemplo, é uma metodologia que pode contar com o uso da tecnologia. Nesse caso, os estudantes podem utilizar ferramentas digitais tanto em casa, para pesquisas, como na sala de aula, para promover a integração com os demais estudantes e consolidar as aprendizagens.

Um exemplo apresentado pela Nova Escola foi o da professora Magda Rodrigues, de Língua Portuguesa, do Colégio Municipal José Botelho Athayde, em Volta Redonda (RJ), que promoveu junto aos estudantes uma pesquisa sobre a Covid-19. Depois de procurarem informações sobre o tema em casa, usando a internet, os alunos criaram, em sala de aula, cartazes digitais sobre o tema utilizando o aplicativo Canva. Todo o trabalho foi feito em grupo e contou com o acompanhamento da professora. Dessa forma, os estudantes puderam aprender sobre a temática de forma ativa, ao invés de apenas ouvirem a professora explicar sobre a doença.

6. Como explorar as tecnologias educacionais com os estudantes?

As ferramentas digitais podem ser usadas em todas as etapas de ensino e em qualquer componente curricular. O complemento à BNCC que trata do ensino de programação prevê essa interdisciplinaridade quando o assunto são habilidades relacionadas à tecnologia.

Todos os componentes curriculares podem se beneficiar das vantagens de trabalhar com tecnologias educacionais, aumentando o engajamento, o protagonismo e a criatividade dos estudantes.

Veja a seguir alguns planos de aula que preveem o uso de tecnologias educacionais:

Anos iniciais

Anos finais

Com novas tecnologias e formas de compartilhar informações nas redes sociais, surgiram também novos gêneros digitais, mudando a forma como as crianças e adolescentes leem e escrevem.

Nesse sentido, surge o conceito de letramento digital, que se refere ao conhecimento necessário para utilizar os recursos tecnológicos e a escrita no meio digital de maneira crítica e ética - o que está diretamente relacionado com a competência geral “cultura digital”, da BNCC.

Em sala de aula, é possível abordar esses novos gêneros, que incluem:

  • Blogs;
  • Tweets;
  • Mensagens instantâneas;
  • Memes;
  • GIFs;
  • Vlogs;

 

Para além da Língua Portuguesa, que aborda a produção de gêneros textuais, diversos outros componentes curriculares podem se apropriar do formato, trabalhando tanto a leitura quanto a produção de conteúdos digitais, sempre relacionados ao tema da aula. É possível ainda desenvolver um trabalho interdisciplinar por meio de projetos.

Segundo a professora especialista em tecnologia Débora Garofalo, em sua coluna para a Nova Escola, os gêneros digitais “diminuem a distância entre o professor e os alunos” e ampliam “formas comunicativas que, devido a sua estrutura, podem variar de acordo com o histórico social e campo tecnológico”. A especialista nota que esses gêneros são “variáveis, versáteis e transmutáveis”, o que permite que qualquer professor se aproprie deles.

 

8. Quais são as melhores tecnologias digitais para estimular a turma a trabalhar em colaboração?

As professoras Rozelma e Audaci indicam algumas ferramentas interessantes. Confira:

  • Jamboard: o quadro interativo do Google permite o trabalho colaborativo, como a resolução de problemas em equipes;
  • Mentimeter: essa ferramenta pode ser usada para o professor fazer perguntas aos estudantes e gerar resultados visuais, expostos para toda a turma. É uma boa tecnologia para promover discussões sobre os mais variados temas;
  • Kahoot!: a plataforma gamificada permite que os estudantes completem tarefas usando o celular. O sistema gera rankings, aumentando o engajamento dos alunos, e mostra ao professor os problemas com maiores e menores taxas de acerto;
  • Padlet: esse recurso permite a criação de murais virtuais colaborativos, nos quais fotos, textos, vídeos e outras mídias produzidos pelos estudantes podem ser inseridos;
  • Scratch: se o foco for o ensino da tecnologia em si, essa ferramenta permite aprender a linguagem de programação de mesmo nome, promovendo interação entre os estudantes durante as atividades;
  • Documentos e apresentações do Google: as ferramentas do Google também são interessantes para trabalhos colaborativos, como pesquisas, já que vários estudantes podem editar um mesmo arquivo simultaneamente;
  • Canva: assim como as ferramentas do Google, o Canva permite a produção de diversos formatos de forma colaborativa, como apresentações, cartazes, publicações para redes sociais, vídeos e documentos;
  • Flipgrid: a ferramenta permite que os alunos criem e compartilhem vídeos curtos.

9. Quais critérios o professor deve ter na hora de escolher uma tecnologia para uso em sala de aula?

Mais do que decidir qual ferramenta usar, é necessário saber qual é o objetivo e como a tecnologia será utilizada. “O professor precisa refletir sobre o que espera que os estudantes aprendam ou desenvolvam a partir da interação com essa tecnologia digital. Deve haver intencionalidade pedagógica desde o planejamento”, afirma Rozelma.

Com o objetivo pedagógico definido, é hora de buscar tecnologias que possam potencializar o aprendizado. Algumas perguntas podem ajudar na escolha:

  • Essa tecnologia precisa de instalação ou acesso à internet? Eu tenho essa infraestrutura na minha escola?
  • A ferramenta é fácil de usar e acessível a todos os estudantes?
  • A tecnologia em questão tem objetivos pedagógicos? É adequada ao meu público-alvo?
  • O recurso permite que sejam explorados diferentes níveis de complexidade?
  • A ferramenta tem recursos motivacionais, com feedbacks encorajadores?
  • A tecnologia permite que o professor acompanhe o trabalho e o progresso dos estudantes?
  • O recurso consegue manter os alunos motivados e engajados?

 

“Escolher a tecnologia certa para uso em sala de aula é uma tarefa crucial que pode influenciar significativamente a eficácia do ensino e a experiência de aprendizagem dos estudantes”, afirma Audaci. “Vale ponderar, também, que a boa qualidade de uma tecnologia digital não garante a sua potencialidade pedagógica, pois é necessária uma boa ação docente nesse uso”, completa Rozelma.

10. Minha escola não tem acesso à internet; e agora?

De acordo com a pesquisa TIC Educação 2022, promovida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), 57% das escolas municipais e 18% das estaduais não tinham computador e acesso à internet disponível para os estudantes.

Apesar de desafiador, esse cenário não impede a adoção de tecnologias educacionais em sala de aula. A seguir, conheça opções de ferramentas que podem ser utilizadas offline:

  • Plickers: a plataforma é similar ao Kahoot!, mas não exige que todos os estudantes estejam com o celular, apenas o professor. Os alunos recebem cartões para responder às perguntas, e o professor aponta o smartphone para esses cartões a fim de registrar as respostas. É uma forma de gamificar processos de resolução de problemas sem o acesso à internet;
  • Stop Motion Studio: esse aplicativo exige o uso de celulares ou tablets, mas não a conexão à internet. Ele é utilizado para criar animações de forma colaborativa;
  • ScratchJr: essa ferramenta pode ser usada com crianças da Educação Infantil ou do 1º ano do Ensino Fundamental. O recurso funciona offline e pode servir para os estudantes programarem suas próprias histórias e jogos.

Se o objetivo do professor for o ensino da tecnologia em si, é possível abordar atividades relacionadas à computação desplugada, prevista pela BNCC Computação. Um exemplo interessante, desenvolvido por Rozelma, é o livro-jogo sertão.bit, que usa a dança como estratégia para desenvolver habilidades de computação, com foco nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Qualquer professor pode baixar o livro-jogo e um guia de apoio.