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O que feiras livres podem ensinar sobre Geografia?

Para aumentar a autoestima dos alunos que trabalhavam na feira e trazer entendimento sobre a socioeconomia, Paloma Silva Santos criou um projeto premiado no Educador Nota 10

POR:
Camila Cecílio
Aluno de Paloma Silva Santos anota informações em feira livre de Aracaju, Sergipe
Os alunos de Paloma Silva Santos foram à feira livre para coletar informações Foto: Nova Escola/Arquivo

Uma turma de Fundamental 2, uma feira livre no bairro da escola e a vontade de fazer diferente. Essa combinação deu a Paloma Silva Santos o Prêmio Educadora Nota 10 em 2015 pelo projeto Feira Livre: Espaço de Aprendizagem. A partir do contexto socioeconômico dos alunos da EE José de Alencar Cardoso, em Aracaju (SE), a professora não só ensinou conteúdos de Geografia, como ajudou a quebrar preconceitos entre os moradores da comunidade local. 

A ideia de desenvolver o projeto surgiu a partir da análise do cenário para além dos muros da escola, que está situada no Bugio, bairro periférico da capital sergipana. A professora percebeu que muitos de seus alunos que trabalhavam na feira eram alvo de piadas por parte dos colegas. “Eu sentia muita dificuldade em abordar esse assunto, era delicado, já que muitos deles trabalhavam lá para ajudar com as despesas de casa, mas senti que precisávamos falar sobre isso”, conta a professora.  

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Depois de explorar conteúdos como as relações de trabalho, os setores da Economia e a dinâmica entre a cidade e o campo, Paloma conduziu a turma do 7º ano em uma exploração por vários conceitos da Geografia que ajudaram a refletir sobre a feira livre como um espaço social. Em um domingo, mesmo sem apoio da gestão da escola na época, a professora levou os estudantes para a Feira do Bugio e lá eles puderam vivenciar o que haviam aprendido na sala de aula. 

“Os alunos passaram a entender melhor a nossa própria economia e cultura a partir dessa vivência e de questionários nos quais eles puderam identificar aspectos como nível de escolaridade e média salarial dos trabalhadores e puderam relacionar tudo isso ao que havíamos estudado na disciplina, como a relação entre o campo e a cidade”, detalha Paloma. O trabalho também fez com que os alunos, a partir do conhecimento, passassem a respeitar as pessoas que trabalham na feira. “O aprendizado foi tão incrível que, logo em seguida, fizemos uma feirinha na nossa escola”, diz. 

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Alunos de Paloma Silva Santos encenam uma feira livre em sala de aula
Os alunos também encenaram uma feira livre em sala de aula Foto: Nova Escola/Arquivo

Como posso desenvolver esse projeto na minha escola? 

Segundo Paloma, para desenvolver o projeto em outras escolas é necessário trabalhar o contexto local, a partir de pesquisa: 

1. Contextualizar a história das feiras livres e da feira livre do bairro

2. Registrar através da oralidade e de imagens as percepções que os alunos têm sobre as feiras

3. Aulas expositivas ou vídeos sobre a função mediadora das feiras na relação campo-cidade

4. Expedição exploratória contextualizada, com questionários e registros sobre o perfil socioeconômico dos feirantes, origem dos produtos comercializados, fotografias, etc

5. Produção de gráficos com os resultados obtidos dos questionários

6. Representação da feira livre pelos alunos (através de teatro, literatura ou música)

7. Trabalhar com a multidisciplinaridade (Matemática, Arte, Ciências e História, principalmente)

 

Feira Livre: Espaço de Aprendizagem – por Paloma Silva Santos

Paloma Silva Santos durante uma de suas aulas em Aracaju, Sergipe
Paloma durante as aulas do projeto Foto: Nova Escola/Arquivo

INDICAÇÃO: Fundamental 2, Ensino Médio, EJA
DISCIPLINAS: Geografia, História, Matemática, Ciências, Arte
DURAÇÃO:  a partir de 2 meses 

O que é o projeto?
O projeto é um estudo sobre a relação campo-cidade numa turma de 7º ano, destacando conteúdos de economia, economia informal e comércio realizados a partir de uma feira livre, objeto geográfico de múltiplas dimensões.

Do que vou precisar?
- Livro didático
- Registros de oralidades (a partir das discussões em sala de aula e também pesquisas dos alunos com pessoas que trabalham na feira)
- Registros imagéticos de percepção (imagens do trabalho na feira e das relações interpessoais)
- Aulas autorais e/ou vídeos sobre a história das feiras livres
- Questionários estruturados
- Aulas expositivas dialogadas
- Expedição exploratória a uma feira livre

Quais os objetivos de aprendizagem trabalhados?
- Potencializar os conhecimentos através da teoria e da prática
- Identificação da relação-cidade e campo através dos produtos comercializados
- Analisar a relação de diferentes consumidores e seus estratos sociais com o subespaço da feira
- Identificar a representatividade econômica, social e cultural das feiras
- Analisar como a relação campo-cidade se apresenta no espaço das feiras livres, de forma a compreender os principais elementos que justifiquem a sua persistência através do tempo

E os desafios? Como encará-los? 
O primeiro foi a falta de apoio. “Atualmente, a gestão é muito boa, mas na época foi muito difícil porque não tínhamos materiais, tudo tinha que ser feito pelo professor”, diz Paloma. “Foi desafiador fazer tudo sozinha, ir à feira com os alunos no domingo sozinha”. Hoje, esse projeto é um marco na escola e a professora conta que a autoestima dos alunos, principalmente daqueles que trabalham em feiras, cresceu bastante. Outra dificuldade foi não saber como abordar a questão do trabalho infantil. “Eu acho que deveria ter abordado mais a questão do trabalho infantil, não sei se foi um erro, mas podia ter focado mais na parte social. Mas foi um aprendizado”. 

E no final? O que meus alunos vão aprender?
A construção de percepções sobre as relações de trabalho, os circuitos produtivos, as etapas da produção, os sujeitos sociais que trabalham na feira são alguns dos aprendizados. “O estudo do meio trouxe uma maneira diferente de estudar socioeconomia. O comum transformou-se numa complexidade que possibilitou a quebra de preconceitos e uma nova visão que tinham das feiras, contribuindo também para valorização do trabalhador-feirante, construindo uma nova relação de respeito à diversidade cultural local”. 


Paloma Silva Santos é professora de Geografia pela Universidade Federal de Sergipe. Leciona há 16 anos, mas sua paixão pelo magistério se deu há 12 anos quando começou a dar aula em escolas públicas, pois é onde encontra possibilidades de mostrar uma Geografia viva, presente no cotidiano de todos nós, uma Geografia que possibilite ao aluno a fazer uma leitura de mundo a partir de seu próprio meio, ser sujeito de seu próprio conhecimento e atuar no meio em que vive.

 

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