Dia da Mulher na Educação Infantil: como trabalhar?
Confira propostas para abordar representatividade com as crianças – uma prática que deve ocorrer o ano todo
POR: Paula SestariOlá, professoras e professores! Inicio esta conversa refletindo sobre como o nosso trabalho na Educação Infantil é, em muitos momentos, pautado pelas datas comemorativas. Assim, quando essas efemérides vêm à tona, precisamos analisar muito bem nosso planejamento, de forma a articular essas temáticas com os interesses das crianças e com os próprios contextos social e cultural.
E, falando nisso, agora em março temos o Dia Internacional da Mulher. Entrar no histórico com os pequenos pode não ser uma boa estratégia, tendo em vista que a origem da data revela questões tristes e até cruéis, que a levaram a ser oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975. Por outro lado, trazer o 8 de março como um dia a ser “comemorado”, com cartões e flores de maneira romantizada, também não faz muito sentido. Afinal, infelizmente o nosso país tem um passado e um presente violentos em relação às mulheres, basta acompanhar os noticiários.
Já na nossa perspectiva, enquanto professoras e professores da Educação Básica, há indícios de que um dos motivos da carreira docente ser hoje tão pouco atrativa se deve, em grande parte, ao fato de que somos uma classe majoritariamente composta por mulheres. Trouxe todos esses aspectos aqui para que possamos pensar em uma abordagem que, desde bem pequenos, contribua para que as crianças discutam sobre a representatividade da mulher e valorizem seu papel em nossa sociedade.
Propostas para as crianças sobre o Dia da Mulher
Como sugestão prática, gostaria de compartilhar algumas possibilidades que podem e devem ser oportunizadas às crianças – não somente neste período, mas ao longo de todo o ano, já que essa pauta é uma questão permanente, que precisa ser enfatizada constantemente em nossas abordagens.
Brincadeiras
Procure trazer vivências em que meninas e meninos possam desbravar diferentes papéis. Organize espaços na sala com contextos e brincadeiras para que todos vivenciem as mais diversas funções e exerçam atividades colaborativas em condição de igualdade, que é justamente o que buscamos em nossa sociedade na relação entre homens e mulheres.
Narrativas
Aproveitando esse gancho das brincadeiras, que tal proporcionar algumas práticas lúdicas com elementos que remetam aos super-heróis? Temos aí uma brecha para ressaltar as super-heroínas, com suas capas, escudos, fantasias, entre outros itens. Isso ajuda a ir além dos contos de fada, nos quais a figura feminina usualmente depende de alguém para ser salva. Trago como sugestão de repertório para as crianças o filme Enrolados (2010), o clássico Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, e Uma menina chamada Julieta, do escritor Ziraldo.
Literatura infantil
Ainda falando de livros, sabemos que a leitura em voz alta realizada pela professora ou o professor é uma prática diária na Educação Infantil, e boa parte dos títulos apresentados tem autoria de grandes mulheres. Assim, apresente para os pequenos essas autoras, como Eva Furnari, Ruth Rocha, Ana Maria Machado e Cecília Meireles, compartilhando um pouco de suas trajetórias e desafios para que fosse possível viverem de suas obras.
Já na hora dos nossos próprios estudos, é importante ler as obras das pensadoras que têm sua produção reconhecida na área da Educação e que merecem tanto destaque quanto outros ícones masculinos.
Representatividade nos diálogos
Promova conversas com os pequenos sobre quem são as suas mulheres de referência e incentive-os a reconhecer seus feitos do cotidiano, que também são motivo de grande admiração. Em nossa cultura social, muitas crianças crescem em lares onde o papel da mulher é inferiorizado nas relações familiares, e é nossa função fazê-las refletir sobre isso.
Comece levantando curiosidades do tipo: onde sua mãe trabalha? Como é a rotina das mulheres da sua casa? Aos poucos, busque evidenciar a importância desses papéis exercidos pelas figuras femininas realçando a diversidade como algo positivo para nossa convivência em sociedade.
Presença das mulheres da comunidade
Experimente convidar aquelas que possuem atuação relevante no seu território escolar, como as que são engajadas na área da Saúde ou as que estão em profissões de destaque, como política, médica, bombeira, motorista de caminhão, chef de cozinha, entre outras. Isso pode ajudar as crianças, principalmente as meninas, a ter acesso a novas referências – e vislumbrar as mais variadas possibilidades de influência para suas brincadeiras de hoje e escolhas profissionais futuras.
Cuidado com as mensagens de Dia da Mulher
Por fim, busque sempre priorizar abordagens como as exemplificadas nos tópicos anteriores, as quais são capazes de contribuir com uma Educação na qual todos os gêneros tenham vez e voz em todos os meses, e não apenas em março. Portanto, em vez de construir com os pequenos aquelas mensagens já “batidas”, parabenizando por uma data que traz poucos motivos para comemoração, incentive criações nas quais as crianças reconheçam o papel da mulher na comunidade, na escola e nas suas lutas diárias.
Aproveito este texto para honrar e agradecer a todas as mulheres que vieram antes de mim e que lutaram para que hoje eu tivesse um lugar de fala, direitos conquistados e horizontes para fazer minhas próprias escolhas.
Um abraço a todas!
Até breve,
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.
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