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Avaliação somativa: em quais momentos deve ser usada?

É importante que o professor combine esse formato tradicional com outros instrumentos avaliativos e tenha claros os seus objetivos ao utilizá-la

POR:
Carol Firmino

Avaliações somativas, também conhecidas como provas tradicionais, têm seu papel e momento de acontecer em sala de aula. Foto: Getty Images

Avaliar o aluno faz parte de qualquer processo educativo. A forma como ele é avaliado, porém, pode ser diversificada. No contexto escolar, a avaliação somativa é a mais comum. Trata-se daquele modelo mais tradicional de prova, com questões dissertativas ou de múltipla escolha, que mede o grau de domínio do aluno em relação a determinado conteúdo e resulta em uma nota ou um conceito.

Normalmente, ela é individual, pontual e acontece ao final de uma sequência didática, e não necessariamente implica em ações pedagógicas após a sua aplicação.

“Ela deixaria de ter uma característica somativa se, a partir dos resultados que o instrumento apresenta, a escola e os professores desempenhassem uma ação pedagógica e formativa, e não meramente burocrática, como a reprovação”, diz Rodrigo Fonseca, formador de professores, especialista em avaliação e sócio-diretor do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Consultoria (Nipec).

O uso das avaliações somativas costuma variar de acordo com a escola, que pode não priorizar a simples atribuição de notas, e sim diversificar as metodologias avaliativas, observando como elas estão contribuindo para a aprendizagem.

Quando a avaliação somativa faz sentido?

Nos últimos anos, cada vez mais recursos para avaliar os estudantes integram o processo avaliativo, como as avaliações diagnósticas, formativas e comparativas [que comparam a aprendizagem de um período em relação a outro]. Ainda assim, os especialistas apontam que a somativa, a depender do componente curricular, ocorre de forma mais recorrente.

O educador pode optar, por exemplo, por realizar uma prova desse tipo ao final de cada conteúdo ministrado, a fim de oferecer ao aluno mais suporte para uma avaliação que contemple todos os conteúdos estudados.

Segundo Alessandra Novak, especialista em avaliação e integrante do Time de Formadores da NOVA ESCOLA, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, devido ao maior tempo que os professores passam com os estudantes, entre outros fatores, as avaliações formativas acontecem de forma mais frequente.

Já nos Anos Finais do Fundamental e no Ensino Médio, as avaliações somativas ainda prevalecem. “Isso está mudando, mas todo o processo de mudança na Educação é lento, por características próprias desse sistema.”

A especialista explica que as avaliações somativas podem ser de diferentes tipos (leia o box a seguir), e é importante ter isso claro ao decidir como usá-las. “Pergunte-se: o que estamos querendo evidenciar? A qual objetivo de aprendizagem essa questão está associada? Essa avaliação permitirá aos estudantes demonstrarem se alcançaram ou não os objetivos de aprendizagem propostos?”

Ela defende que os instrumentos avaliativos devem estar a serviço do processo de ensino e aprendizagem. Assim, o professor deve refletir sobre o que ele deseja coletar de informação sobre o que o aluno aprendeu e qual a melhor forma de fazer isso.

Práticas que trazem bons resultados

A professora Francilda Machado, que leciona História na EM Santa Bárbara, em São Bento, zona rural do Maranhão, observa que as provas dissertativas e de múltipla escolha – que são tipos de avaliações somativas – precisam ser levadas em consideração. Isso porque elas não significam apenas a nota que os alunos precisam obter naquele momento, mas também funcionam como preparação para o futuro, visto que os vestibulares possuem esse formato.

“Existem alunos que ficam tensos e pouco produtivos durante a prova bimestral, e isso precisa ser trabalhado, pois a continuidade de seu processo de emancipação a partir do estudo implica ter um bom rendimento durante uma avaliação dissertativa ou de múltipla escolha”, considera Francilda.

De acordo com ela, a combinação desses dois modelos ajuda os estudantes a formular ideias, detalhar o que compreenderam, colocar-se à frente de possibilidades diversas e eliminar as opções que não condizem com o que foi solicitado na questão.

Ela ressalta que o dia da prova não precisa ser um peso na vida desse aluno. “É importante criar um ambiente seguro e tranquilo para que ele se sinta à vontade e consiga demonstrar o que aprendeu.” Uma dica que ela dá para tornar as avaliações somativas mais dinâmicas é levar as aulas “para dentro” da prova. “Por exemplo, se durante a explicação do conteúdo o professor usou imagens e memes, acrescente essa referência na avaliação”, sugere.

Francilda conta ainda que mantém diálogo constante com as turmas sobre as avaliações, reforçando para os alunos que a nota em si não definirá quem eles são. “Deixo claro que as notas deles estão me avaliando também e que quero ser bem avaliada. Isso cria um ambiente saudável para o momento da avaliação.”

A professora já usou as estratégias da avaliação surpresa e de propor que eles elaborassem possíveis questões para se autoavaliarem em relação a determinado conteúdo. Outra experiência interessante, segundo ela, foi aplicar uma prova dissertativa extensa, com apenas uma cópia para toda a sala.

“Sem utilizar [qualquer método de] consulta, eles deveriam entregar a avaliação respondida ao final do horário, e todos poderiam dar suas opiniões e escrever. Foi uma avaliação somativa, porém coletiva.”

Diferentes formas de avaliar

Em seu dia a dia, a professora Francilda gosta de avaliar os alunos de várias formas, de acordo com suas individualidades e o conteúdo ministrado, com práticas que são importantes aliadas para as avaliações somativas:

  • Produção de mapas mentais dos conteúdos estudados: demonstram a capacidade do aluno de sintetizar o que aprendeu e a qualidade da sua compreensão.
  • Exposição oral dos pontos de maior relevância na opinião do estudante: mostra se ele identificou as informações mais relevantes e sua habilidade de comunicação.
  • Grupos de estudos em sala e apresentação de seminários: ajudam no desenvolvimento da expressão oral e na fixação das aprendizagens.
  • Momentos de autoavaliação: levam o aluno a fazer uma análise do seu protagonismo no aprendizado estabelecendo metas e expectativas.

Outras sugestões de avaliação somativa

O formador de professores Rodrigo Fonseca afirma que, entre a comunidade acadêmica, há uma percepção de que as avaliações somativas funcionam, por outro lado, como uma força indutora de estudo. “A prova diz ao aluno que estude e se saia bem, pois, se ele for mal, isso será interpretado pela sociedade como fracasso. Por isso, é uma estratégia formadora de comportamento e de controle, inclusive sobre o trabalho pedagógico.”

Mas como elas fazem parte da dinâmica de aprendizagem, é importante que sejam bem aproveitadas. Uma maneira de diversificar as avaliações somativas, segundo ele, é pedir aos alunos que escrevam a sua resposta em formato de redação em vez de responder a várias questões. Ele também indica a possibilidade de o estudante gravar uma videoaula sobre o conteúdo que seria avaliado, com critérios estabelecidos previamente entre o professor e a turma.

Rodrigo reforça que, nas provas dissertativas, mesmo considerando o seu caráter somativo, sejam aplicadas estruturas inteligentes. “Se quero avaliar quatro ou cinco habilidades, eu posso criar questões diferentes para a mesma habilidade e deixar que o aluno escolha a quais ele deseja responder. Isso exige mais maturidade, mas o coloca na situação de fazer uma análise e tomar uma decisão”, conclui o especialista.