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Sondagem na alfabetização: por que é importante realizá-la no segundo semestre

Acompanhar o desenvolvimento dos alunos no processo de aquisição da escrita permite planejar melhor as atividades e intervenções e avançar nas aprendizagens

POR:
Nairim Bernardo
É essencial entender que há bases teóricas que norteiam o que é e como deve acontecer a sondagem na alfabetização. Foto: Getty Images

O processo de aquisição do sistema de escrita pelas crianças acontece constantemente e, inclusive, fora do ambiente escolar. Na volta às aulas, é importante o professor fazer uma avaliação diagnóstica de como está a aprendizagem dos alunos. Ao comparar o resultado com a última sondagem realizada no 1º semestre, será possível notar que alguns estudantes mantiveram o mesmo nível, outros avançaram e alguns podem ter retrocedido. É com base nesse levantamento que o planejamento das atividades de alfabetização deve ser feito.

“Depois desse tempo de pausa das férias, o que pensamos que as crianças conheciam pode não ter sido fixado ou vice-versa”, diz Priscilla Mello Almeida, especialista em Psicopedagogia e Design Educacional e mentora de Língua Portuguesa do Time de Formadores de NOVA ESCOLA. “Sem uma boa sondagem, você planeja para um aluno que pode não existir ou para uma turma fictícia, enquanto a sua não está recebendo o que é preciso para se desenvolver”, completa.

Elisa Vilalta, coordenadora pedagógica e formadora de professores em tecnologias educacionais e metodologias ativas, ressalta a importância de realizar diagnósticos com frequência. “Nessa idade, as mudanças são muito rápidas. É indicado fazer sondagens pelo menos a cada dois meses para acompanhar de perto o desenvolvimento.”

Segundo ela, esses momentos precisam acontecer sempre da mesma forma para entrar na rotina da turma e, assim, as crianças saberem como ele funciona. A professora e os alunos também precisam ter claro que não se trata de uma prova, e sim de um levantamento de dados.

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Princípios para uma boa sondagem

Geralmente, a depender da escola e da rede de ensino, os professores têm liberdade para planejar suas atividades avaliativas. Entretanto, é essencial entender que há bases teóricas que norteiam o que é e como deve acontecer a sondagem na alfabetização

Em 1985, Emília Ferreiro e Ana Teberosky lançaram o livro Psicogênese da Língua Escrita, obra fundamental no campo da Educação e da Psicologia, até hoje utilizado por pesquisadores e professores no estudo do desenvolvimento da escrita. Nessa obra, elas identificam quatro hipóteses que as crianças formulam sobre como a escrita alfabética funciona: pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e alfabética. Vale lembrar que não, necessariamente, a criança passará por todas elas.

Para identificar em qual delas cada aluno se encontra, há um modelo clássico de sondagem. A professora dita quatro palavras do mesmo campo semântico, nesta ordem: polissílaba, trissílaba, dissílaba e monossílaba. Depois, dita também uma frase em que aparece pelo menos uma das palavras anteriores.

Além dos princípios básicos, a especialista Priscilla Almeida indica outros aspectos importantes a serem considerados. “Às vezes, a professora fica preocupada com muitos critérios – como escolher todas as palavras de um campo semântico muito específico, como Festa Junina, por exemplo – e esquece o que é realmente importante para alunos do 1º ano: não ter sílabas complexas e não ter vogais repetidas na mesma palavra. Isso atrapalha a evolução, porque a criança busca uma coerência e fica confusa ao não encontrá-la”, explica.

Outro erro comum é realizar a sondagem apenas de modo coletivo. “Alguns alunos têm dificuldade para se concentrar, e outros escrevem qualquer coisa porque não estão a fim de refletir naquele momento. Os resultados podem levar o professor a pensar que o estudante não avançou”, aponta Priscilla. “É preciso realizar sondagens individuais para perguntar porque ele fez aquelas escolhas e entender qual hipótese está formulando”. 

Depois da escrita, também é preciso pedir para que o aluno leia o que escreveu, apontando cada sílaba ou letra. Esse momento ajudará a professora a perceber como o aluno pensa e, a depender da hipótese em que está, também fará a criança notar que escreveu letras a mais ou a menos na palavra.

Como fazer a gestão da sala de aula durante as sondagens individuais

Confira duas sugestões de atividades para a turma realizar durante esses momentos

Ao realizar sondagens individuais, o professor deve pensar em uma atividade para o restante da turma fazer de forma independente. É importante que ela ocupe todo o tempo necessário para que os estudantes não fiquem ociosos.

O professor também pode explicar para os alunos que não deve haver interrupções durante a sondagem. Se julgar necessário, é possível estabelecer uma pausa para esclarecer as dúvidas dos alunos. Caso haja uma professora auxiliar, ela deve ficar responsável por isso.

Veja, a seguir, duas propostas:

Cantinhos: organize cantinhos com jogos pedagógicos diversificados para as crianças. Explique as regras de cada um e certifique-se de que todos compreenderam o funcionamento dos jogos. Defina se haverá ou não um esquema de rotação. Diga para os alunos que você indicará quando cada grupo pode mudar de cantinho, e que o estudante deve ausentar-se do jogo ao ser chamado para a sondagem.
Agrupamentos produtivos: Com base nas observações feitas sobre o nível de leitura e escrita de cada criança, organize duplas ou trios heterogêneos. Ofereça uma atividade colaborativa que desafie os alunos, como caça-palavras ou ditado e correção entre pares (a partir de uma lista prévia de palavras feita pelo professor). É importante garantir a diversidade porque se todos no grupo não souberem ler ou escrever, poderão não conseguir realizar a atividade de modo autônomo. 

Boas práticas na sondagem da alfabetização

Érika Alencar, professora do 1º ano na EMEB Philomena Salvia Zupardo, em Itatiba (SP),  recebe sondagens da Secretaria de Educação de três a quatro vezes por ano, mas não se limita a elas. Ela realiza sondagens mensais com as crianças para garantir que elas avancem de forma mais rápida, uma vez que planeja atividades e intervenções específicas para cada nível de alfabetização.

“Depois que comecei a fazer sondagens com mais frequência, percebi um resultado melhor. No ano passado, fechei o ano com todas as crianças alfabéticas. Batendo o olho nas atividades diárias, já consigo ter uma noção sobre em qual hipótese elas estão, mas gosto de deixar documentado”, conta a professora.

Uma semana depois da volta às aulas, Érika compartilha a importância que a primeira sondagem terá. “Acho que as duas semanas de férias foram benéficas, pois mesmo sem a sondagem já percebi avanços em crianças que estavam estacionadas na alfabetização. É a partir do próximo resultado que vou adequar e reprogramar as aulas”, destaca. “Quero preparar atividades que desafiem os alunos e, agora no segundo semestre, os avanços e o amadurecimento deles são mais rápidos.”

Ela comenta que, no começo do ano, o momento da sondagem era mais demorado, pois as crianças ainda não conheciam o formato e estavam no início do processo de alfabetização. Agora, com mais alunos já alfabéticos e com todos acostumados à rotina, tudo flui mais rápido. Isso permite observar outros aspectos, como a pontuação, que eles estão começando a estudar. 

Após o ditado, Érika pede que o aluno leia o que escreveu colocando o dedinho nas letras. Se a criança percebe o erro, ela não deixa apagar, mas pede para que reescreva a palavra ao lado. Isso ajuda a manter os registros de qual foi o primeiro pensamento do estudante e se houve uma percepção diferente após a leitura.

Olhar individual e coletivo

Em Canoas (RS), Silmara Coelho, professora da EMEF Jacob Longoni, não teve férias, mas viu seus alunos passarem por um período de pausa ainda mais intenso. Devido às enchentes que assolaram o estado do Rio Grande do Sul, a escola foi utilizada como centro de acolhimento para pessoas desabrigadas, e os estudantes ficaram dois meses sem aulas. 

“A comunidade é muito participativa, e os pais, muito ativos. Durante a paralisação, eles se mobilizaram, perguntaram o que dava para fazer em casa e pediram atividades. Não era obrigatório, mas indiquei páginas do livro didático que já havíamos estudado em sala para que fosse feito um reforço em casa. Também enviei alguns vídeos e jogos”, relembra. “Isso fez toda a diferença nessa retomada. Na primeira sondagem, percebi que a maioria não esqueceu o que já sabia.”

Ela conta que faz a maioria das sondagens individualmente, mas também considera importante realizar algumas de modo coletivo para observar outros aspectos. “Sozinha, a criança tem mais concentração, menos distração. No coletivo, o estímulo muda e aquelas que não estão bem firmes na alfabetização não são tão precisas na escrita”, salienta. “É importante saber como a criança age sozinha e como age no grupo, quando tem que lidar com outros desafios. Considero importante ter as duas visões.”

No caso de alunos de inclusão, é preciso pensar em modos de adaptar a sondagem para que eles não deixem de participar desse importante momento da rotina da alfabetização. Silmara tem três alunos nessa condição em sua turma da manhã e cinco à tarde. 

Nesses casos, de acordo com ela, o tipo de sondagem tem que ser diferente. “Alguns requerem material concreto como letras móveis, régua para leitura e gravuras. Na dislexia, por exemplo, não adianta dar um texto e pedir que a criança leia, temos que ajudá-la a orientar a leitura com uma régua. Sempre é possível adaptar, mas me mantenho atenta às mesmas questões: nível de leitura e de escrita”, diz a professora.

Registro e análise dos resultados 

Durante a sondagem, é importante que a avaliação se dê de modo processual e que os professores observem o avanço e as dificuldades dos alunos em diversos momentos da rotina escolar. Os registros são essenciais para que o docente não se perca devido às rápidas mudanças e à quantidade de alunos que precisa observar.

Érika comenta que as sondagens enviadas pela prefeitura de sua cidade têm campos para a criança colocar o nome completo, organizar o alfabeto, preencher as palavras e a frase do ditado, além de um espaço para a professora anotar qual é a hipótese de escrita. Também há uma planilha para que ela coloque todos os resultados. Além disso, a professora usa um caderno pessoal em que separou uma folha para cada criança. Nele, ela escreve o mês e indica qual hipótese cada uma apresenta em cada sondagem, além de montar duplas produtivas para realizar as atividades seguintes. 

Para Priscilla, será apenas com base em uma boa avaliação dos dados e com a escolha de boas atividades de intervenção que o professor poderá ajudar os alunos a avançar em suas hipóteses. “Em cada hipótese há coisas certas e outras que precisam ser desconstruídas. É o professor que precisa ajudar o aluno a reformular sua hipótese de forma coerente, até que consiga compreender como o sistema de escrita funciona”, afirma. “Precisamos ter consciência, intencionalidade pedagógica e boas atividades para obter bons resultados”, conclui.

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Recurso possibilita acompanhar o progresso de cada aluno e o nível de alfabetização da turma

Criada para facilitar a rotina do alfabetizador, a nova ferramenta de avaliação diagnóstica da NOVA ESCOLA permite fazer registros de sondagens de forma simples e comparar os resultados de cada aluno e da turma como um todo ao longo do ano. Outra funcionalidade é o compartilhamento dos resultados com gestores e outros professores, garantido o trabalho em equipe.

“Às vezes, o professor faz a sondagem e anota uma observação muito rápido no caderno, pois precisa dar conta de muitas outras demandas. A ferramenta facilita o registro e oferece a visualização dos dados em tabelas e gráficos, o que permite acompanhar melhor o desenvolvimento da turma e das crianças que precisam de uma atenção maior”, explica Elisa Vilalta, que apoiou a criação desse novo recurso. “Também são oferecidas sugestões de planos de aula e de atividades que vão ajudar as crianças a passar de uma hipótese para outra. É claro que o professor pode fazer adaptações, mas a ideia inicial já está dada.”

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