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Mulheres importantes e conquistas femininas para inspirar suas aulas

Elas lideraram movimentos revolucionários em diversos âmbitos da sociedade, do direito ao voto até a luta por métodos contraceptivos

POR:
Tata Pinheiro, Tatiane Calixto
Imagem: Lucas Magalhães

Texto publicado originalmente em 01/03/2019 e atualizado em 02/03/2023 para acréscimo de informações.

Todo dia 8 de março, as mulheres acordam com uma certeza: receberão algum mimo, geralmente flores; ouvirão algum discurso sobre terem força combinada com delicadeza e provavelmente alguma piada sobre tarefas domésticas. Mas o Dia Internacional da Mulher é celebrado mundialmente como um marco na luta por direitos humanos.

A data nasceu de uma série de manifestações de mulheres por melhores condições de trabalho no século 20 e é utilizada para promover a reflexão sobre o longo caminho percorrido na trilha da igualdade entre homens e mulheres.

Sobre o Dia Internacional da Mulher, leia mais:

Professoras e professores devem aproveitar a oportunidade para debater em sala de aula os direitos adquiridos desde 1911 e refletir sobre o que ainda pode e precisa ser feito para criar oportunidades dignas a todos os cidadãos e cidadãs. “Avançamos muito, mas as mulheres ainda têm sobrecarga de trabalho doméstico e salários mais baixos para funções de mesmo nível e sofrem violências motivadas por gênero. Trabalhar essa data nas escolas é retomar essas problemáticas doloridas e formar cidadãos mais conscientes e capazes de mudar essa realidade”, aponta Veridiana Campos, doutora em Sociologia e especialista em desigualdade de gênero.

Veridiana explica que os meninos precisam participar do debate. “As escolas também podem aproveitar para discutir conceitos de feminilidade e masculinidade e repensar a criação de meninas e meninos desassociando os universos culturalmente atribuídos a cada gênero, como profissões de Exatas e atividades de força destinadas a meninos e profissões de Humanas e atividades domésticas destinadas a meninas.”

Atividade sobre mulheres na área de Exatas

Para Rosiane Prates, professora de Matemática dos Anos Finais, que atua há mais de dez anos na rede pública, lutar contra um cenário de desigualdade também passa pela sala de aula. Uma alternativa simples, mas que pode se mostrar potente, é apresentar para a turma uma proposta de leitura e pesquisa sobre quem foram as mulheres que se destacaram no decorrer dos séculos e na atualidade por suas descobertas científicas e atuação na Matemática.

É possível, por exemplo, trabalhar a vida de Ada Lovelace. Ela escreveu o primeiro algoritmo processado por uma máquina e, com isso, foi a primeira programadora da História, cujo nome de batismo era Augusta Ada Byron King, uma verdadeira condessa do século 19, filha do poeta inglês mais conhecido como Lorde Byron.

“Precisamos mostrar que elas também podem seguir na área científica, em especial por meio da Matemática, ainda na fase escolar, com o intuito de descortinar muitas possibilidades de atuação e desenvolvimento profissional, mesmo nos campos ainda dominados pelos homens”, afirma a professora Rosiane.

LEIA MAIS: Meninas e Matemática: sugestões para incentivá-las

Mulheres importantes na História

Para além da área de Exatas, o 8 de março pode ser importante para iniciar ou intensificar um movimento a ser seguido durante todo o ano: lançar luz sobre a atuação das mulheres na sociedade. Uma alternativa é começar com as figuras femininas do cotidiano da turma, recurso que tem potencial para render boas experiências, especialmente com as crianças mais novas. Aliás, essa é uma das sugestões que a professora Paula Sestari traz para abordar o Dia da Mulher na Educação Infantil.


“Comece levantando curiosidades do tipo: onde sua mãe trabalha? Como é a rotina das mulheres da sua casa? Aos poucos, busque evidenciar a importância desses papéis exercidos pelas figuras femininas, realçando a diversidade como algo positivo para a nossa convivência em sociedade”, sugere Paula.

Para os maiores, um trabalho interessante pode ser apresentar nomes que fizeram a diferença na sociedade, mas acabaram invisibilizados. Roberta Duarte, professora dos Anos Finais do Ensino Fundamental na rede municipal de Jaboatão dos Guararapes (PE) e integrante do Time de Formadores da NOVA ESCOLA, dá dicas de personagens que merecem mais destaque nas aulas, não apenas no 8 de Março, mas no contexto histórico no qual que estão envolvidas.

Nísia Floresta

“Ela é uma das precursoras do feminismo no Brasil. Foi escritora, intelectual e mais: uma revolucionária que lutou, por meio da Literatura e da Educação, pela emancipação e independência das mulheres”, explica Roberta.

Maria Quitéria de Jesus 

Conhecida como Maria Quitéria de Medeiros, foi uma heroína que lutou contra tropas portuguesas pela Independência do Brasil. Nascida na Bahia, Maria Quitéria serviu de inspiração para que outras mulheres se juntassem às tropas, formando um grupo comandado por ela. “Hoje ela é reconhecida pela sua coragem e seu protagonismo na Guerra da Independência”, destaca Roberta.

Maria Felipa de Oliveira

Mulher negra, pescadora, capoeirista e marisqueira. Nascida em Itaparica (BA), ficou conhecida por liderar um grupo de 200 pessoas – entre elas, povos indígenas – na luta pela libertação portuguesa. Em 2018, foi declarada heroína da Pátria Brasileira.

Outras conquistas femininas para trabalhar em sala

Para contribuir com o debate em sala, preparamos uma lista com as principais conquistas femininas ao longo do tempo e os motivos que as tornam tão importantes na História. Confira no infográfico abaixo.

Pelo voto

Uma das lutas de maior significado para as mulheres, e que marca o início do movimento feminista, é por direito ao voto. A organização feminina em prol do direito de se manifestar politicamente ocorreu de forma quase simultânea na Europa e nos Estados Unidos. Em 1869, foi criada a Associação Nacional para o Sufrágio das Mulheres, em Nova York, por Susan B. Anthony e Elizabeth Cady Stanton.

Já na Inglaterra, a articulação teve início em 1903, ano de formação da União Social e Política das Mulheres, liderada por Emmeline Pankhurst. As britânicas quebraram vitrines e patrimônios, sabotaram serviços públicos e chegaram até a realizar um atentado com bomba diante da resistência do governo. Após apoiarem os esforços do país durante a Primeira Guerra Mundial, as britânicas conquistaram o direito ao voto em 1918.

Esse período de reivindicação do voto foi considerado, anos depois, como a primeira fase do feminismo, embora o termo ainda não existisse oficialmente.

No Brasil, esse direito só foi garantido pela Constituição de 1932, após uma luta de mais de dez anos liderada, sobretudo, pela bióloga Bertha Lutz, uma das principais articuladoras do movimento pelo voto feminino no país.

Por Educação

As mulheres tiveram suas primeiras vitórias na luta por acesso à Educação no século 19. Em 1837, passou a ser permitida a entrada de mulheres em universidades nos Estados Unidos. Na Europa, o acesso à Educação se popularizou após a Primeira Guerra Mundial.

No Brasil, as meninas conquistaram o direito de estudar além do primário (atual Ensino Fundamental 1) em 1827. Em 1879, elas ganharam finalmente o direito de cursar uma faculdade. O acesso à Educação é um dos principais recursos para emancipação das mulheres, antes relegadas à esfera doméstica.

LEIA MAIS: Malala: “A Educação para as meninas deve ser prioridade no Brasil”

Por controle de natalidade

Os anos 1960 foram marcados pela liberação feminina, ou revolução sexual. Impulsionadas por obras feministas como O segundo sexo (1953), de Simone de Beauvoir, e A mística feminina (1963), de Betty Friedan, as mulheres deram início a um movimento mais social do que político. Em 1960, a primeira pílula anticoncepcional passou a ser comercializada, o que proporcionou liberdade para as mulheres terem mais controle sobre a gravidez e revolucionou os costumes da época. 

Por liberdades civis

Nas décadas de 1960 e 1970, as mulheres adquirem gradativamente algumas liberdades civis. Em 1962, o Estatuto da Mulher Casada alterou mais de dez artigos do código civil vigente. A nova lei retirou a obrigatoriedade de autorização do marido para trabalhar, concedeu direito a herança e requerimento da guarda dos filhos e estendeu às mulheres o poder familiar, antes restrito aos homens. Isso significou, legalmente, o mesmo peso dentro da estrutura familiar e emancipou as esposas da tutela dos maridos, ainda que faltasse mudar os costumes. Em 1977, a provação da Lei do Divórcio conferiu liberdade e autonomia para as mulheres interromperem casamentos infelizes.

Contra a violência

A luta pelo fim da violência contra as mulheres ganhou força no Brasil a partir dos anos 1980, culminando com a criação, em 1985, do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM).

As maiores conquistas das brasileiras nessa área, no entanto, são recentes. Em 2006, foi criada a Lei Maria da Penha, primeira a reconhecer e criar mecanismos para combater a violência doméstica.

O nome é uma homenagem à farmacêutica brasileira que ficou paraplégica após sofrer agressões do marido por anos. Foi um importante marco por dar respaldo às mulheres para denunciar agressores. Ela não aborda apenas violência física, mas também psicológica, sexual e patrimonial. Nove anos depois, em 2015, foi sancionada a Lei do Feminicídio, que coloca o assassinato de mulheres por razões da condição do gênero feminino como circunstância qualificadora de homicídio e o enquadra no rol de crimes hediondos. Ela dá visibilidade à violência sistemática à qual as mulheres estão sujeitas no Brasil.

LEIA MAIS: Maria da Penha na sala de aula: da Educação Infantil à EJA

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