Meio Ambiente: Professora leva turma de Educação Infantil para o mangue
Projeto em Joinville ajudou a desconstruir preconceitos da comunidade escolar
POR: Camila CecílioO manguezal foi a principal inspiração da professora Paula Aparecida Sestari para desenvolver um projeto que abordasse questões ambientais com seus alunos da Educação Infantil. O local era propício, afinal o próprio CEI Odorico Fortunato, localizado no bairro Aventureiro, em Joinville (SC), havia sido construído sobre uma área aterrada anos atrás. Antes mesmo de começar a explorar o tema, Paula percebeu que o trabalho poderia ter outro viés além de falar sobre o meio ambiente: desconstruir ideias preconceituosas sobre os manguezais e famílias que vivem nele.
“Havia bastante preconceito com quem morava no manguezal, atrelavam a pessoas a questão do lixo, da sujeira, da pobreza”, recorda Paula. Ao mesmo tempo, a professora sentia que as crianças reproduziam falas pejorativas na sala de aula e isso mostrava uma necessidade mostrar a relevância do ecossistema não apenas para elas, mas também para seus responsáveis. Foi assim que nasceu Baía da Babitonga: Nosso Berçário Natural, iniciativa que deu à professora o Prêmio Educadora Nota 10 em 2014. “Criei o projeto para ajudar a preservar o espaço, conscientizar e desconstruir preconceitos”, reforça.
LEIA MAIS Os investigadores do manguezal
Foram várias etapas até alcançar o objetivo traçado. Depois de conversar com as crianças, de 4 e 5 anos, Paula formulou e enviou um questionário para os responsáveis. As respostas mostraram que a maioria não compreendia a importância do mangue e que desconhecia sua relação com a Baía de Babitonga, que está diretamente ligada ao braço de rio ao lado da escola.
Conversas, leituras, observações, construções tridimensionais e vivências na região de mangue foram o suficiente para que a turma de Educação Infantil aprendesse sobre o manguezal e passasse a ter outro olhar sobre o ecossistema e quem precisa dele para viver, como pescadores. Outras atividades, como um passeio de barco, foram organizadas com o envolvimento das famílias para que todos vissem a dimensão da natureza que se encontra no lugar. Com a colaboração da comunidade, os alunos passaram a contar com um observatório elevado de madeira para que todos pudessem ver o manguezal do pátio da escola.
Como posso desenvolver o projeto na minha escola?
Embora o projeto trabalhe com uma região específica de Joinville, a professora Paula acredita que a ideia pode ser simplesmente adaptada a outras realidades. “É preciso, sobretudo, que o professor esteja atento ao que as crianças levam para a sala de aula, que esteja aberto para ver e escutar o que diz o entorno, a comunidade, a fim de identificar questões que vão fazer a diferença na vida deles, e pode ter até mesmo o manguezal, afinal é um ecossistema presente em diversas cidades litorâneas”, observa. “Acredito que isso seja pensar globalmente e agir localmente”, completa.
Baía da Babitonga: nosso berçário natural
Por: Paula Sestari
Indicação: Educação Infantil, Fundamental 1 e 2
Disciplinas: Ciências, História, Geografia, Língua Portuguesa, Química
Duração: 1 ano
O que é o projeto?
O projeto Baía da Babitonga: Nosso Berçário Natural foi desenvolvido a partir da necessidade de construir com as crianças um novo olhar para a região de manguezal no entorno do centro de Educação Infantil. A proposta mobilizou também as famílias e chamou a atenção da comunidade para esse ecossistema que precisa ser preservado. As experiências criaram a oportunidade de escuta das crianças, observação e registro das características do local, pesquisas e conversas compartilhadas sobre o tema, saídas a campo contando com a participação das famílias, construção de contextos lúdicos dentro da sala de aula trazendo elementos (naturais, fotos, interação com a comunidade, histórico do bairro, textos, histórias) atrelados a esse ecossistema.
Do que vou precisar?
Pesquisas na web sobre as condições e peculiaridades de cada região. Veja esses sites interessantes:
Quais os objetivos de aprendizagem trabalhados?
Além dos Campos de Experiência da BNCC, a professora destaca:
- Conhecer a importância do manguezal para outros ecossistemas da Baía da Babitonga;
- Conhecer alguns animais que buscam a região para a reprodução e como é a vida deles nesse ambiente;
- Reconhecer o relacionamento dos grupos sociais habitantes do entorno, com a área;
- Incentivar práticas de Educação ambiental no grupo familiar e compartilhar informações com a comunidade, como estratégia de valorização e preservação da área.
E os desafios? Como encará-los?
“O maior desafio foi o receio dos pais por conta das pesquisas externas. Depois de muita conversa fui conquistando a confiança das famílias, envolvendo parceiros, trazendo materiais, pesquisadores e atores que sabem a importância do manguezal para dialogar com a gente. A gestão da escola foi bastante parceira e me apoiou muito e isso fez a diferença”, diz Paula.
E no final? O que meus alunos vão aprender?
- Compreenderam a relevância desse ecossistema e das suas peculiaridades;
- Ampliaram os conhecimentos sobre a fauna e a flora e as conexões existentes entre os diferentes ecossistemas que compõem a região;
- Demonstraram valorização das riquezas naturais locais e sentimento de pertencimento à comunidade;
- Tiveram momentos de reflexão sobre a relação com o meio ambiente por meio de ações que contribuem para a Educação Ambiental e sustentabilidade;
- Participaram de momentos de observação e registro, pesquisas e discussões em grupo a partir de leituras de curiosidades sobre o tema;
- Se apropriaram da história do desenvolvimento da comunidade em sua relação com o manguezal abordando questões sociais e culturais originadas.
Paula Aparecida Sestari é pedagoga, tem pós-graduação em Mídias na Educação e é mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Atua há 12 anos como professora de Educação Infantil da rede municipal e é coordenadora do Núcleo Conectando Saberes de Joinville.
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